25 agosto 2017

Biblioterapia


A Associação Portuguesa de Escritores e a plataforma escritores.online acabam de lançar uma nova proposta de edição de obras, a qual pretende ser uma alternativa às atuais soluções de publicação de livros.
O e-manuscrito é uma obra em formato digital, sem intervenção de terceiros, que passa diretamente do escritor para o leitor através da plataforma:
www.escritores.online/downloads
O preço fixo de 2,99€ permite ao leitor, obter, em qualquer parte do mundo, de uma forma prática e económica, obras em língua portuguesa de diferentes géneros e autores.
À disposição dos leitores já se encontra o meu e-manuscrito “Biblioterapia”, que poderão adquirir aqui.

“Curupira Pirapora” de Tatiana Salem Levy e Vera Tavares

Hoje sugiro a leitura de “Curupira Pirapora”, uma aventura com sotaque do português do lado de lá do Oceano Atlântico. 
Curupira Pirapora é um ser fantástico, que vive sozinho na floresta. Tem cabelos vermelhos, pelos verdes, olhos amarelos, pés virados para trás e morre a rir quando assusta os incautos visitantes.
Janaína é uma menina da cidade, cheia de pulseiras e brincos, que passa as férias com os seus avós índios, mas tem muito medo de bichos, plantas e sons.
Certo dia, os dois tropeçam um no outro e ambos apanham um susto. Porém e apesar das suas diferenças, eles unem-se numa imensa aventura na Amazónia. Quem não ficará nem um bocadinho feliz com esta amizade será um tolo caçador, capaz de chegar à lua com um só salto.
Na cultura brasileira, mameluco é uma pessoa com ascendência branca e indígena e curupira é uma das figuras mais conhecidas do folclore do Brasil. Diz a lenda brasileira que ele é o protetor da fauna e da flora, lutando contra aqueles que as querem destruir.
O livro está recomendado pelo PNL – Plano Nacional de Leitura para apoio a projetos relacionados com a natureza e a defesa do ambiente nos 3º, 4º, 5º e 6 anos de escolaridade. Mas, como acontece com muitos dos livros recomendados para determinada faixa etária, este livro fará as delícias também de qualquer adulto que tenha a sorte de o ler. É uma prazerosa viagem pelo folclore brasileiro, com o qual muitos dos portugueses tiveram o primeiro contacto com a saudosa série televisiva “Sítio do Picapau Amarelo”.
Tão importantes quanto o texto, as ilustrações da portuguesa Vera Tavares transformam o livro numa obra de arte e acrescentam incalculável valor às palavras, à medida que o leitor percorre as páginas do mesmo. Texto e imagem permitem ao leitor realizar uma memorável viagem pelo ambiente da floresta amazónica.
Garanto-vos que não voltarão a ser os mesmos depois de conhecerem Pirapora, Janaína-Mameluca, o tolo caçador e todos os bichos da floresta.
A escritora Tatiana Salem Levy nasceu em 1979. O seu romance “A Chave de Casa” foi o vencedor do Prémio São Paulo de Literatura 2008, na categoria Melhor Livro de Autor Estreante e finalista dos prémios Jabuti e Zaffari & Bourbon. Este romance está publicado no Brasil, Portugal, França, Espanha, Itália e Turquia.
O segundo romance “Dois Rios” (Tinta-da-china, 2012), foi finalista dos prémios PT e São Paulo de Literatura 2012. Publicou ainda dois livros infantis, “Curupira Pirapora” (Prémio FNLIJ) e “Tanto Mar” (Prémio ABL). “Paraíso” foi publicado no Brasil em 2014. 
Vera Tavares nasceu em 1972. Estudou História, variante História da Arte, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Está à frente do design da Tinta da China desde que a editora nasceu, há cerca de uma década.

"Não se pode morar nos olhos de um gato" de Ana Margarida de Carvalho

 Ana Margarida de Carvalho é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa e dedicou-se ao Jornalismo nós últimos anos. Tem reportagens, contos e poemas espalhados por várias publicações e coletâneas. Editou também o livro infantil “A Arca do É”, ilustrado por Sérgio Marques (cuja leitura em família também sugerimos fortemente).
O seu primeiro romance “Que Importa a Fúria do Mar” valeu-lhe o Grande Prémio de Romance e Novela APE em 2013 e apresentou-nos de imediato uma escritora notável, que depressa ocupou um lugar de destaque no panorama literário nacional.
Não se pode morar nos olhos de um gato” é o seu segundo romance e a nossa sugestão de leitura para o início do verão de 2017. Esta obra foi considerada Livro do Ano 2017 (pela Sociedade Portuguesa de Autores) e vencedora do Prémio Manuel Boaventura.
A narrativa centra-se em finais do século XIX, já depois da abolição da escravatura, quando um tumbeiro clandestino naufraga ao largo do Brasil.
Um grupo de náufragos atinge uma praia intermitente, que desaparece na maré cheia: um capataz, um escravo, um mísero criado, um padre, um estudante, uma fidalga e sua filha, um menino pretinho ainda a dar os primeiros passos. Todos são vencedores na morte, perdedores na vida.
O mar, ao contrário dos seus antecedentes quotidianos, dá-lhes agora uma segunda oportunidade, duas vezes por noite, duas vezes por dia. Ao contrário do que pensam, não estão sós naquela prisão natural, com os penhascos enquanto sentinelas, entre o céu e o mar. Com eles ali vivem todos os seus remorsos e todos os seus fantasmas.
Mais difícil do que se fazerem ao mar ou escalarem precipícios será ultrapassarem as suas diferenças e os preconceitos: os de raça, os de classe social, os de género e os de credo.
Este é um livro que nos ajuda a colocarmo-nos na pele do outro, através de personagens densas e humanas, como a escritora Ana Margarida de Carvalho tão bem sabe criar e partilhar generosamente com os leitores.