26 novembro 2008

O poeta

Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
um desses que preenche
cadernos de folha azul com
números
de deve e haver. De facto, o que
deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe
acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai
do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas,
de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um
escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que
passa a caminho
da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu;
e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia
interrupção da morte.

Ajude-nos a distribuir sorrisos!

Não custa nada! :)

25 novembro 2008

Interessante



"Quando viajo, para escrever ou por prazer, tento saber o menos possível sobre o sítio para onde vou, para não chegar lá já influenciado. Vou como uma folha em branco."

Vidiadhar Surajprasad Naipaul
(Nobel da Literatura de 2001)
Lisboa, Novembro de 2008

20 novembro 2008

Jogo de espelhos


Fotografia de Carlos Loff Fonseca


Partem-se com promessas de azares
Sucumbidos pelo vento matinal que nos acorda
Às horas em que finalmente julgávamos conseguir dormir.
Para eles olhamos directamente.
Em alguns vemos em nossos pescoços uma corda
Noutros esboçamos o mais belo sorrir.
É um jogo que nem todos conseguem jogar.
Uns nem chegam mesmo a acordar
Quando o vento matinal decide quebrar os espelhos
Que atenciosamente guardam em seus quartos.
Outros julgam que por se não quebrarem os deles
São os espelhos certos
E não chegam a jogar.
Eu
Revejo-me em cada pedaço partido que me reflecte
E julgo não acreditar no azar.

Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos. Ed. Som da Tinta, 2004, pg. 7

18 novembro 2008

O Outono e a fantasia

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.
Ao que eles disseram, então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse, eu estava a brincar, não sou uma árvore e deixou cair as folhas.
Mas os pais disseram, olha, é Outono.

Russell Edson (1935), in O Túnel
(Tradução de José Alberto Oliveira)

12 novembro 2008

Ouch!


Help, I have done it again.
I have been here many times before.
Hurt myself again today,
and the worst part is there's no one else to blame.

Be my friend,
hold me, wrap me up,
unfold me, I am small and needy,
warm me up and breathe me.

Ouch, I have lost myself again.
Lost myself and I am nowhere to be found.
Yeah, I think I might break.
Lost myself again and I feel unsafe.

Sia – Breath me