02 abril 2021
Entrevista na ABCPortugal Rádio - 02.04.2021
02 março 2021
22 janeiro 2021
Amanda Gorman
31 dezembro 2020
ainda
"Não te rendas, ainda estás a tempo
De alcançar e começar de novo,
Aceitar as tuas sombras,
Enterrar os teus medos,
Libertar o lastro,
Retomar o voo.
Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem
Perseguir os teus sonhos,
Destravar o tempo,
Remover os escombros,
e destapar o céu.
Não te rendas, por favor não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se esconda,
E se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma
Ainda há vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o quiseste e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não há feridas que não cure o tempo.
Abrir as portas,
Tirar os ferrolhos,
Abandonar as muralhas que te protegeram,
Viver a vida e aceitar o repto,
Recuperar o riso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo,
Celebrar a vida e retomar os céus.
Não te rendas, por favor não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma,
Ainda há vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um começo novo,
Porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, porque eu te amo."
MARIO BENEDETTI
traduzido por Inês Pedrosa
29 dezembro 2020
21 dezembro 2020
adenda (em forma de espelho)
12 novembro 2020
that's all, folks
(fotografia via "citandocinema" no instagram, do filme "Masculino-Feminino", de Jean-Luc Godard, 1966)
10 novembro 2020
discos perdidos #3
"(...) l looked ahead
I'm sure I saw you there
You don't need me to tell you now
That nothing can compare
(...)
And on a loss still in my eyes
Shatter a necklace across your thigh
I might've lived my life in a dream
But I swear this is real..."
05 novembro 2020
Poema encontrado no fundo do balde do lixo
"Conheço todos os argumentos.
Conheço todos os contra-argumentos.
Conheço a futilidade da nossa vida.
Conheço a fome, a sede, a ânsia.
A alegria.
O amor? Também.
O desamor. A felicidade e a desgraça.
Tropeço cada dia na mesma pedra.
Tropeço cada dia na mesma pedra.
Tropeço cada dia na mesma pedra.
No fim já não se sabe
se há pedra ou se tropeçamos
por hábito, por amor à arte,
porque não somos capazes de outra coisa.
Porque o homem é um animal que tropeça.
Porque não somos capazes de outra coisa. "
Roger Wolfe
02 novembro 2020
discos perdidos #2
As if through water from the bottom of a pool
You're movin' without movin'
And when you move, I'm moved
You are a call to motion
There, all of you a verb in perfect view
Like Jonah on the ocean
When you move, I'm moved
I'm put to mind of all that I wanna be
When you move
I could never define all that you are to me
Shake like the bough of a willow tree
You do it naturally
Move me, baby(...)"
01 novembro 2020
08 outubro 2020
Louise Glück
"O tempo passou, transformou tudo em gelo.
Sob o gelo, o futuro bulia.
Se caísses lá dentro, morrias.
Era um tempo
de espera, de acção suspensa.
Eu vivia no presente, que era
a parte do futuro que podíamos ver.
O passado pairava sobre a minha cabeça,
como o sol e a lua, visível mas inalcançável.
Era um tempo
governado por contradições, como
Não sentia nada e
tinha medo.
O inverno esvaziou as árvores, voltou a enchê-las de neve.
Como eu nada sentisse, a neve caiu, o lago gelou.
Como se eu tivesse medo, permaneci imóvel;
o meu bafo era branco, uma descrição do silêncio.
O tempo passou, e uma parte dele tornou-se isto.
E outra parte evaporou-se simplesmente;
podíamos vê-la a pairar sobre as árvores brancas,
formava partículas de gelo.
Esperas a vida inteira pelo momento oportuno.
Depois o momento oportuno
revela-se acção consumada.
Eu via mover-se o passado, uma fila de nuvens a avançar
da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda,
consoante o vento. Por vezes
não havia vento. As nuvens pareciam
ficar onde estavam,
como uma pintura do mar, mais imóveis do que reais.
Por vezes o lago era um lençol de vidro.
Sob o vidro, o futuro murmurava,
modesto, convidativo:
tinhas de te concentrar para o não ouvires.
O tempo passou; chegaste a ver parte dele.
Os anos que levou eram anos de inverno;
ninguém lhes sentiria a falta. Por vezes
não havia nuvens, como se
as fontes do passado tivessem desaparecido. O mundo
perdera a cor, como um negativo; a luz atravessava-o
de lado a lado. Depois
a imagem apagava-se.
Por cima do mundo
só havia azul, azul em toda a parte."
Tradução – Rui Pires Cabral
in “Telhados de vidro” nº. 12, Editora Averno, Lisboa, 2009
03 outubro 2020
02 outubro 2020
das horas em 2020
"Toda a gente passou horas
Em que andou desencontrado
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro"
29 setembro 2020
(...)
"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites, não dos meses,
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes, ah por vezes,
num segundo se evolam tantos anos."
David Mourão-Ferreira
18 setembro 2020
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
You are welcome to Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Mário Cesariny “Pena Capital”, Lisboa, Assírio & Alvim, 1982
04 setembro 2020
02 setembro 2020
se puderes...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Sísifo, Miguel Torga, Diário XIII
25 agosto 2020
19 agosto 2020
Carta aberta dos escritores de língua portuguesa contra o racismo, a xenofobia e o populismo
Carmen Zita Ferreira
Fotografia de Miguel A. Lopes
14 agosto 2020
25 julho 2020
15 julho 2020
paisagem com grão de areia
Houve marcas, sinais,
que importa se legíveis.
(...)
Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio."
Wislawa Szymborska, in "Paisagem com grão de areia" tradução de Júlio Sousa Gomes, edição Relógio D’ Água
12 julho 2020
todos os pecados do mundo
mesmo quando procuro o teu espírito
pareço uma criança distraída
observando o comboio dos nomes
nas expressões atentas
das memórias de ti
e tu estás para além de qualquer máquina fotográfica
e tu estás para além dos ruídos dos corpos
metafísica é o pecado dos gulosos do pensamento(...)"
"Todos os Pecados do Mundo"
Cecília Barreira