mudança
de estação
para
te manteres vivo – todas as manhãs
arrumas
a casa sacodes tapetes limpas o pó e
o
mesmo fazes com a alma – puxas-lhe brilho
regas
o coração e o grande feto verde-granulado
deixas
o verão deslizar de mansinho
para
o cobre luminoso do outono e
às
primeiras chuvadas recomeças a escrever
como
se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada
de pousio – uma terra
necessitada
de águas de sons de afectos para
intensificar
o esplendor do teu firmamento
passa
um bando de andorinhões rente à janela
sobrevoam
o rosto que surge do mar – crepúsculo
donde
se soltaram as abelhas incompreensíveis
da
memória
luzeiros
marinhos sobre a pele – peixes
que
se enforcam com a corda de noctilucos
estendida
nesta mudança de estação.
Al
Berto
In «Horto de Incêndio» (poesia), colecção «peninsulares
/ literatura» (n.º 49),
Assírio
& Alvim, Lisboa, junho de 1997 (2.ª ed.), pg. 52fotografia de Nuno Abreu
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