22 dezembro 2012
21 dezembro 2012
13 dezembro 2012
28 novembro 2012
19 novembro 2012
14 novembro 2012
ondjaki
“um homem é feito do que planifica e do que vai sentindo. de
correntes de ferro que o prendem ao chão e de correntes de ar que lhe
atravessam o corpo em ecos de poesia.
verdade e urgência.”Ondjaki
in “Os Transparentes”
Ed. Caminho, 2012, pg.206
07 novembro 2012
CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não
fiz.E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles
Fotografia de João Baltazar
31 outubro 2012
28 outubro 2012
20 outubro 2012
Manuel António Pina
Amor como em casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraidíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
in “Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde”
A regra do jogo edições, 1974, pg. 34
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraidíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
in “Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde”
A regra do jogo edições, 1974, pg. 34
10 outubro 2012
21 setembro 2012
um entre os mais
«A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó a estátua.»
HÉLIA CORREIA,
in "A Terceira Miséria", Relógio d'Água, Fev. 2012.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó a estátua.»
HÉLIA CORREIA,
in "A Terceira Miséria", Relógio d'Água, Fev. 2012.
fotografia de David Fonseca
era esse o teu sorriso
Tenho um sorriso fechado na palma da minha mão.
Sorriso que foi achado caído no meio do chão.
Um sorriso que era vento desenrolado do azul
em que as minhas velas pandas se enfunavam para o Sul,
rumo a qualquer fim do mundo!
Uma ilha tropical onde o meu corpo confundo
com vento suor e sal. Era esse o teu sorriso;
o sorriso que me davas quando os teus olhos nos meus
eram dois potros com asas.
À tua espera na praia fiquei pela tarde fora,
no alto daquele rochedo onde um minuto é uma hora!
E não vi o teu sorriso surgir da areia ou do mar.
Nem tive um porto de abrigo...
Nem foste um barco a chegar.
Se me disseres que morreste não acredito. Não posso!
Andavas sempre comigo e o teu sorriso era o nosso...
Hoje guardo o teu sorriso fechado na minha mão...
A contrastar com o siso que trago no coração.
14 setembro 2012
papa a papa
As alunas das doroteias
comem todas as manhãs
uma loura papa de aveia
e nisto são meninas cristãs.
Mas para que não conste que estas florinhas
são antropófagas e pagãs,
para que se não diga que elas comem
o Santo Padre todas as manhãs,
uma freira a quem nada escapa
e que depois de morta vai ser santinha
ensinou-lhes que em vez de papa
elas devem dizer farinha.
Natália Correia (1923-1993)
in Poesia Completa, Ed. Dom Quixote, pg. 55
comem todas as manhãs
uma loura papa de aveia
e nisto são meninas cristãs.
Mas para que não conste que estas florinhas
são antropófagas e pagãs,
para que se não diga que elas comem
o Santo Padre todas as manhãs,
uma freira a quem nada escapa
e que depois de morta vai ser santinha
ensinou-lhes que em vez de papa
elas devem dizer farinha.
Natália Correia (1923-1993)
in Poesia Completa, Ed. Dom Quixote, pg. 55
06 setembro 2012
o quarto que sente
Imagine-se que em vez de um esquilo se via um gato ruivo e "o quarto que sente", no que toca a esta colaboradora, é mesmo assim.
27 agosto 2012
A nona elegia de Rilke
A nona elegia
PORQUÊ, se é possível viver o prazo da existência,
até ao seu termo, como loureiro, um pouco mais escuro do que
todos os outros tons de verde, com pequenas ondas no rebordo
da folhagem (como o sorriso de um vento) -: porquê então esta
forçosa existência humana – e, evitando o destino,
ter saudades do destino?...
Oh! Não porque há a felicidade,
proveito antecipado de uma perda próxima.
Não por curiosidade, ou para exercitar o coração,
que também haveria no loureiro…”
(…)
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
In “As elegias de Duíno”
Ed. Assírio & Alvim, 1993, pg. 83
PORQUÊ, se é possível viver o prazo da existência,
até ao seu termo, como loureiro, um pouco mais escuro do que
todos os outros tons de verde, com pequenas ondas no rebordo
da folhagem (como o sorriso de um vento) -: porquê então esta
forçosa existência humana – e, evitando o destino,
ter saudades do destino?...
Oh! Não porque há a felicidade,
proveito antecipado de uma perda próxima.
Não por curiosidade, ou para exercitar o coração,
que também haveria no loureiro…”
(…)
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
In “As elegias de Duíno”
Ed. Assírio & Alvim, 1993, pg. 83
20 agosto 2012
18 julho 2012
11 julho 2012
09 julho 2012
gaivota
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Alexandre O´Neill
26 junho 2012
15 junho 2012
07 junho 2012
02 junho 2012
28 maio 2012
24 maio 2012
banda sonora de viagem #23
In the
mornings,
I was
anxious
Was better
just to stay in bed
Didn't
wanna fail myself again
Running
through all the options
And the
endings
Were
rolling out in front of me
But I
couldn't choose a thread to begin
And I could
not, love
Cos I could
not love myself
Never good
enough no
That was
all I'd tell myself
And I was
not well
But I could
not help myself
I was
giving up on living
In the
morning
You were
leaving
Traveling
south again
And you
said you were not unprepared
And all the
dead ends
Disappointments
Fading from
your memory
Ready for
that lonely life to end
And you
gave me love
When I
could not love myself
And you
made me turn
From the
way I saw myself
And your
patient love
And you
helped me help myself
And you saved me
22 maio 2012
No Dia do Autor Português
«Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja no que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»
Ilustração de
Isabel Hojas (Santiago, 1977- )
http://tierradehojas.cl/
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja no que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»
O Brincador,
Texto de Álvaro MagalhãesIlustração de
Isabel Hojas (Santiago, 1977- )
http://tierradehojas.cl/
16 maio 2012
04 maio 2012
Às vezes, esperar vale a pena
Às vezes esperar vale a pena. parece-me ser o caso deste filme e respetiva banda sonora:
27 abril 2012
11 abril 2012
O bicho da democracia
09 abril 2012
29 março 2012
26 março 2012
21 março 2012
No dia mundial da poesia
O sono retirou-se do meu
corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites.
Depois de teres
partido, os lençóis da cama
são como limos frios
que se agarram à pele.
Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar
a solidão pela casa;
talvez procure ainda um
gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo
cego a debicar
as sombras na única praça
deserta da cidade -
o amor nunca aprendeu a ler
nas linhas da mão.
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA,
in O CANTO DO VENTO DOS CIPRESTES (Gótica, 2001)
Foto de José M G Pereira
20 março 2012
19 março 2012
13 março 2012
04 março 2012
balanço #2
As minhas passagens pelas escolas com o Bicho de sete cabeças não têm deixado de me surpreender.
Desta vez quero falar-vos da minha passagem pelo CEF – Centro de Estudos de Fátima. Tenho alguma dificuldade em resumir o que por lá aconteceu no passado dia 24 de fevereiro, tantas foram as emoções, as surpresas, o talento e o empenho que pude vivenciar e apreciar.
Tudo começou quando uma menina saiu de um Baú de Histórias com um livro nas mãos.
A história que ela ia contar era a do “Bicho de sete cabeças” e foi adaptada para teatro pela incansável Prof.ª Marlene Frazão, coordenadora Clube de Português do CEF, apoiada pelos professores Tomé Vieira e Filomena Vieira.
Desta vez quero falar-vos da minha passagem pelo CEF – Centro de Estudos de Fátima. Tenho alguma dificuldade em resumir o que por lá aconteceu no passado dia 24 de fevereiro, tantas foram as emoções, as surpresas, o talento e o empenho que pude vivenciar e apreciar.
Tudo começou quando uma menina saiu de um Baú de Histórias com um livro nas mãos.
A história que ela ia contar era a do “Bicho de sete cabeças” e foi adaptada para teatro pela incansável Prof.ª Marlene Frazão, coordenadora Clube de Português do CEF, apoiada pelos professores Tomé Vieira e Filomena Vieira.
O anfiteatro estava cheio de alunos, desde o 1.º Ciclo até ao Secundário e foi maravilhoso ver que todos estavam atentos à atuação dos seus colegas e que, no final, alunos de todas as idades tinham perguntas para me fazer.
Para quem já conhece a história e me conhece a mim, o que posso eu dizer para vos mostrar quão importante foi esta tarde, em Fátima?
Para quem já conhece a história e me conhece a mim, o que posso eu dizer para vos mostrar quão importante foi esta tarde, em Fátima?
Que o Bicho de sete cabeças era mais alto do que eu e me ofereceu um ramo de flores enquanto eu escolhia uma das suas 14 faces para beijar.
Que o cenário foi realizado com mestria pela Prof.ª de Educação Visual Rosalina Sousa e os seus alunos, com base nas ilustrações de Sandra Serra.
Que no final da peça se juntaram ao elenco principal os alunos de percussão do Prof. Jorge Gonçalves e alguns alunos do 1.º Ciclo, com coloridos balões, tal e qual como no livro.
Que a história foi brilhantemente adaptada para teatro, como eu nunca imaginei que fosse possível, com a sonoplastia a cargo do Prof. José Lourenço a ajudar.
Que a sessão de autógrafos foi feita, pela primeira vez na minha vida, dentro da casa do Ourives Aristides.
Que os alunos fizeram perguntas interessantes e que até me deram algumas ideias a reter.
Resumindo, posso dizer que um encontro feito a pretexto de leituras, livros e valores, se transformou num encontro de afetos, com muita alegria da minha parte.
Talvez me esteja a repetir, mas não posso deixar de dizer que, até hoje, todas as minhas experiências com escolas, corpos docente, não-docente e discente das mesmas, têm sido fenomenais.
A todos, todos mesmo, muito obrigada!
Que o cenário foi realizado com mestria pela Prof.ª de Educação Visual Rosalina Sousa e os seus alunos, com base nas ilustrações de Sandra Serra.
Que no final da peça se juntaram ao elenco principal os alunos de percussão do Prof. Jorge Gonçalves e alguns alunos do 1.º Ciclo, com coloridos balões, tal e qual como no livro.
Que a história foi brilhantemente adaptada para teatro, como eu nunca imaginei que fosse possível, com a sonoplastia a cargo do Prof. José Lourenço a ajudar.
Que a sessão de autógrafos foi feita, pela primeira vez na minha vida, dentro da casa do Ourives Aristides.
Que os alunos fizeram perguntas interessantes e que até me deram algumas ideias a reter.
Resumindo, posso dizer que um encontro feito a pretexto de leituras, livros e valores, se transformou num encontro de afetos, com muita alegria da minha parte.
Talvez me esteja a repetir, mas não posso deixar de dizer que, até hoje, todas as minhas experiências com escolas, corpos docente, não-docente e discente das mesmas, têm sido fenomenais.
A todos, todos mesmo, muito obrigada!
28 fevereiro 2012
23 fevereiro 2012
2ª EDIÇÃO DE «O BICHO DE SETE CABEÇAS»
Já está disponível a 2ª edição do livro «O bicho de sete cabeças - História de uma eleição democrática» de Carmen Zita Ferreira (texto) e Sandra Serra (ilustração), recomendado pelo Plano Nacional de Leitura e pela Casa da Leitura.
"Numa localidade chamada Cata-vento, a população elege o Bicho de sete cabeças como seu presidente. Na hora da tomada de posse - a coroação - aparece um problema: - Qual das cabeças coroar? A partir deste facto, a autora, Carmen Zita Ferreira, propõe uma reflexão sobre as qualidades de um líder democrático. O resultado é inesperado.
As ilustrações de Sandra Serra emprestam a esta metáfora política o cenário ideal para uma leitura prazenteira."
aqui
21 fevereiro 2012
o que é o espaço?
O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
Ana Hatherly
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
Ana Hatherly
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003
08 fevereiro 2012
05 fevereiro 2012
01 fevereiro 2012
25 janeiro 2012
18 janeiro 2012
11 janeiro 2012
05 janeiro 2012
02 janeiro 2012
receita de ano novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
(31/10/1902 - 17/08/1987)
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
(31/10/1902 - 17/08/1987)
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