“(…) A gente sabe bem que quem criou a lei mantém-lhe o conteúdo
Não é com post-scripta e duplas rubricas
Que um código se muda.
Nada se rectifica
Ao sobrepor camadas de cal fresca ou de verniz no aparente.
O fingir-dar sem se dar realmente
Não tira a quem tem fome.
A fome de ternura, de liberdade, de ar
Fome de sol, de pão, de cheiro a mar
Fome de ter amor
Fome de amar.
A fome dos que têm mesmo fome, disto, daquilo, seja do que for.
Mas se é longa a espera
Longo o tempo
Fatigam-se as esperanças
E a fome longamente acumulada faz arrancar do sonho a mais funda raiz.”
Maria Eugénio Cunhal.
As mãos e o gesto. Ed. Escritor, Lisboa, 2000. pg.61/62.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário