Multidão
Correm, com passos de gente que se atrasa,
olhando o relógio, para a hora do suicídio.
Correm, sob um sol que queima, abrasa,
num torturar inquieto, novo e antigo.
Esbarram nos vultos que com eles se cruzam,
fazendo parte de uma multidão sempre igual.
Esbarram e quase nunca se olham
temendo a pausa que impõe o reconhecimento do mal.
Parar é morrer e perder o barco
que nos leva à margem onde o suicídio é feito,
onde com a morte fazemos a cada dia um pacto.
E assim vamos correndo com pressa, na solidão
que marca a diferença no meio de tanta gente
que corre, todos os dias, para ganhar um pedaço de pão.
Carmen Zita Ferreira
in Jogo de Espelhos,
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