10 março 2008

Balada da Serra dos Candeeiros


Fotografia de Sílvia Afonso

Balada da Serra dos Candeeiros

Grande parte da minha vida
Feita de paz e sem guerra
Foi numa casa construída
Com pedras daquela serra (Mote)


Na Serra dos Candeeiros
Parava o vento do mar
Eram lentos os carreiros
Com os olhos a cantar

Traziam pedras gigantes
Para a mão dos britadores
Fazer em poucos instantes
As pedras dos construtores

Os pedreiros sujos de cal
A pegar no fio de prumo
Que traça numa vertical
Lugar do fogo e do fumo

Sem desenhos ou papéis
Nascia a planta dum lar
Quatro canas dois cordéis
São os limites dum lugar

Na Serra dos Candeeiros
O azeite era o mais puro
Os ventos tão verdadeiros
A cantar por sobre o muro

Vinha a água das cisternas
Sempre boa e sempre fria
Sem as técnicas modernas
A limpeza era uma enguia

Vinha o leite já fervido
Vinha o queijo saboroso
O dia era mais comprido
Tudo era mais vagaroso

A pedra que me defende
Do Verão e do Inverno
Não se paga nem se vende
É um valor forte e eterno

José do Carmo Francisco

3 comentários:

Susana Júlio disse...

Bem escolhido, tanto a foto como o poema.
O poema apela a um forte sentimento telúrico, recheado das saudades do outrora; do genuíno e belo antigamente quando tudo parecia mais forte (qual sentimento granítico) e mais verdadeiro. Até se sente o cheiro da terra, da serra e do azeite e do leite, até se ouve o barulho das pedras a estalarem, até se sente o coração da terra a palpitar ans suas palavras.

Beijo grande, amiga.

alice disse...

andei por lá no passado fim de semana e ainda sinto os cheiros e o vento forte na cara. candeeiros e serra d'aire são lugares a explorar brevemente.
beijinhos

Anónimo disse...

olá :) vi que colocou aí uma foto minha, obrigada por ter colocado o meu nome :) beijito

sílviafonso