29 março 2008

Barco fantasma


Fotografia de David Ligeiro


Barco fantasma

Vai vazia esta alma
Descarregada em seus porões,
De tesouros, de sentimentos,
De vozes e de emoções.
Vai vazia esta nau
Despojada de bandeira
Com rumo de sem eira nem beira,
Acompanhando, imóvel,
A única voz solitária
Do passado.
O eco é a sua viagem.
Não naufraga,
Não nada.
Não há termo para o deambular.
Como vai vazia aquela alma.
Como se arrasta aquela nau.

Susana Júlio
"Do mar grande e d'outras águas". Ed. Gama, 2006, pg. 97


Há palavras que, em certos dias, fazem todo o sentido.

27 março 2008

Well don't ya know that happiness is a warm gun

When I hold you in my arms
And I feel my finger on your trigger
I know nobody can do me no harm

Because happiness is a warm gun, momma
Happiness is a warm gun -Yes it is.
Happiness is a warm, yes it is...
Gun!
BANG! BANG!

(The Beatles -"happiness is a warm gun")

20 março 2008

o eterno retorno

Fotografia de Nuno Abreu


“Tudo o que é agradável na vida se baseia num retorno das coisas exteriores, que com regularidade se verifica.
A alternância do dia e da noite, das estações do ano, das flores e frutos e o mais que de época para época se nos depara, para que possamos e devamos fruir, tudo isso é que verdadeiramente impulsiona a vida terrena.
Quanto mais abertos estivermos a essas fruições, mais felizes nos sentimos.”

Goethe (Poesia e Verdade;13.º livro)
citado em “O livro dos amigos”
por Hugo Von Hofmannsthal, ed. Assírio & Alvim, pg. 27.

17 março 2008

10 março 2008

Balada da Serra dos Candeeiros


Fotografia de Sílvia Afonso

Balada da Serra dos Candeeiros

Grande parte da minha vida
Feita de paz e sem guerra
Foi numa casa construída
Com pedras daquela serra (Mote)


Na Serra dos Candeeiros
Parava o vento do mar
Eram lentos os carreiros
Com os olhos a cantar

Traziam pedras gigantes
Para a mão dos britadores
Fazer em poucos instantes
As pedras dos construtores

Os pedreiros sujos de cal
A pegar no fio de prumo
Que traça numa vertical
Lugar do fogo e do fumo

Sem desenhos ou papéis
Nascia a planta dum lar
Quatro canas dois cordéis
São os limites dum lugar

Na Serra dos Candeeiros
O azeite era o mais puro
Os ventos tão verdadeiros
A cantar por sobre o muro

Vinha a água das cisternas
Sempre boa e sempre fria
Sem as técnicas modernas
A limpeza era uma enguia

Vinha o leite já fervido
Vinha o queijo saboroso
O dia era mais comprido
Tudo era mais vagaroso

A pedra que me defende
Do Verão e do Inverno
Não se paga nem se vende
É um valor forte e eterno

José do Carmo Francisco

08 março 2008

Get up, stand up! Stand up for your rights.

Fotografia de heliz




Posso estar enganada mas, neste dia, o que realmente importa reter é isto e não todo o ruído à volta da suposta celebração.

Assim sendo, aconselho a dar um saltinho aqui e ver a foto do dia de heliz.

06 março 2008

All of the things we want each other to be we never will be

“I wish I hadn't seen all of the realness

And all the real people are really not real at all

The more I learn the more I cry

As I say goodbye to the way of life

I thought I had designed for me (…)

All of the moments that already passed

We'll try to go back and make them last

All of the things we want each other to be

We never will be

And that's wonderful, and that's life

And that's you, baby

This is me, baby

And we are

Free

In our love.”

Gosto da Nelinha... O que é que posso fazer?

04 março 2008

I taught myself how to grow

" Sometimes I feel like I'm going insane
Without the numbness or the pain so intense to feel
Especially now it added up through the years
And I, I taught myself how to grow
Without any love and there was poison in the rain
I taught myself how to grow
Now I'm crooked on the outside, and the inside's broke"

(Ryan Adams talk)
Foto:
myszok

03 março 2008

Multidão

Fotografia de Pedro Noel da Luz
http://olhares.aeiou.pt/petrosdune


Multidão

Correm, com passos de gente que se atrasa,
olhando o relógio, para a hora do suicídio.
Correm, sob um sol que queima, abrasa,
num torturar inquieto, novo e antigo.

Esbarram nos vultos que com eles se cruzam,
fazendo parte de uma multidão sempre igual.
Esbarram e quase nunca se olham
temendo a pausa que impõe o reconhecimento do mal.

Parar é morrer e perder o barco
que nos leva à margem onde o suicídio é feito,
onde com a morte fazemos a cada dia um pacto.

E assim vamos correndo com pressa, na solidão
que marca a diferença no meio de tanta gente
que corre, todos os dias, para ganhar um pedaço de pão.


Carmen Zita Ferreira
in Jogo de Espelhos,
Ed. Som da Tinta, 2004, pg.33