Alice no país das maravilhas - Lewis Carroll
Foto: Renato Brandão [olhares]08 fevereiro 2008
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"Sentimos num mundo, pensamos e nomeamos num outro mundo; podemos estabelecer uma concordância entre ambos, mas não preencher o intervalo." Marcel Proust(1871/1922)
3 comentários:
Há que ter objectivos quando nos fazemos ao caminho.
A transcrição que aqui colocaste fez-me logo pensar num dos poemas mais conhecidos de José Régio, mas que vale sempre a pena voltar a ler. Aqui vai:
Cântico Negro
"Vem por aqui"
dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí."
José Régio
Belíssimo, não?
Este poema é um autêntico tratado. Para além disso, quase um hino para os amantes de poesia que tantas vezes não andam...deambulam através dos mundos dos sentimentos e das ilusões, das esperanças e das credulidades...seja como for, existem sempre alternativas e caminhos. Mesmo em caso de dúvida há resposta para a mesma.
O excerto que escolheste, Elsa, é excelente...para além de ser um daqueles livros que "idolatro"! :)
Beijinhos.
Boas escolhas para meditar, neste tempo insano de desnorte colectivo!
Parabéns pelo post e bom fim-de-semana
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