JÁ É TARDE, AMOR
Já é tarde, amor,
para que a Lua se encha de azul
e nos transporte para as montanhas selvagens
onde uivam os lobos perdidos.
Já é tarde
para se criarem novas imagens
que representem sonhos antigos.
Até a chuva se cansou de esperar,
até ela caiu, se perdeu
e se confundiu com o mar.
As estrelas dançam no limiar do cosmo
e o seu destino entregam nas mãos
dos deuses da antiguidade.
Penso que é assim
porque já é tarde.
Cansaram-se de lutar
para não pertencerem só à noite,
porque é tarde, amor,
e toda a Natureza
se contenta com a sua sorte.
Carmen Zita Ferreira
in Jogo de Espelhos,
Ed. Som da Tinta, 2004, pg. 65
6 comentários:
Mas nunca é tarde para se saber disso...nunca será tarde para reconhecer a ordem natural das coisas.
Sempre achei este poema lindíssimo.
Este poema é mesmo muito lindo...Gostei...
Não, não é tarde!
Embora o pareça não será tarde.
Acredito que ainda haverá muito tempo.
Muito bonitas estas palavras.
Olá, moçoilas! Vós sois umas queridas :)
Aconselho vivamente a (todos) que cliquem sobre a foto do Nuno Abreu, para verem como ele conseguiu captar até as estrelas!
De onde é que eu conheço este belo poema ?? :) Saudades do que fizemos, todos juntos!
E tens razão, Tita, a foto está à altura do poema, e vice-versa
Não é uma questão de se contentar com a sorte, é uma retomada de consciência em busca da felicidade, quando não é mais possível ouvir os uivos dos lobos perdidos.
Beijos!
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