28 janeiro 2011
27 janeiro 2011
25 janeiro 2011
24 janeiro 2011
20 janeiro 2011
19 janeiro 2011
A arte do desvio 2#
D. Júlia acordou com frio.
Desde o segundo em que se levantou até ao segundo em que saiu de casa sentiu frio.
Todos os indícios a levavam a pensar que na rua estaria tudo gelado e por isso saiu porta fora com cuidado. O corpo estava satisfeito com o trabalho que duas mãos quentes tinham feito na sua pele inteira, na noite anterior e tudo havia a fazer para que essa sensação se prolongasse.
Assim que pousou o primeiro pé na calçada, caiu estatelada de costas no chão. Nos milésimos de segundo da queda, viu o céu cinzento, em meio círculo, a passar vertiginosamente diante dos olhos e pensou: “Já está, Júlia. Partiste-te toda.”
Não tinha partido. Mexia as pernas, mexia os braços e mexia o pescoço, apesar de não se conseguir levantar. Era por dentro que estava paralisada.
D. Júlia, faça frio, ou faça sol, a partir esse dia, ao sair de casa, desvia-se do exacto sítio onde pousou o pé nessa manhã. É essa a arte que está a praticar desde então.
Desde o segundo em que se levantou até ao segundo em que saiu de casa sentiu frio.
Todos os indícios a levavam a pensar que na rua estaria tudo gelado e por isso saiu porta fora com cuidado. O corpo estava satisfeito com o trabalho que duas mãos quentes tinham feito na sua pele inteira, na noite anterior e tudo havia a fazer para que essa sensação se prolongasse.
Assim que pousou o primeiro pé na calçada, caiu estatelada de costas no chão. Nos milésimos de segundo da queda, viu o céu cinzento, em meio círculo, a passar vertiginosamente diante dos olhos e pensou: “Já está, Júlia. Partiste-te toda.”
Não tinha partido. Mexia as pernas, mexia os braços e mexia o pescoço, apesar de não se conseguir levantar. Era por dentro que estava paralisada.
D. Júlia, faça frio, ou faça sol, a partir esse dia, ao sair de casa, desvia-se do exacto sítio onde pousou o pé nessa manhã. É essa a arte que está a praticar desde então.
13 janeiro 2011
cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos,
in "Poemas"
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos,
in "Poemas"
08 janeiro 2011
06 janeiro 2011
05 janeiro 2011
04 janeiro 2011
banda sonora de viagem 6#
Em aditamento, um poema sobre a fantasia, a imaginação e tudo o que neste quarto se tem dito sobre as tretas que inventamos na nossa cabeça. Dedicado, claro está, à outra blogueira deste espaço, que se senta, nesta senda, "next to me", como diz o cantor :)
FANTASIA
Despedacei tanto sonho
ao correr atrás da vida,
que tendo-a por mim segura
e com ela os meus segredos
vi que deixava perdidas
as razões desse correr,
e que tendo enfim a chave
já perdera a fechadura.
Adolfo Casais Monteiro(1908-1972)
02 janeiro 2011
01 janeiro 2011
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