30 dezembro 2011
07 dezembro 2011
17 novembro 2011
fórum miúdos da fnac leiria
15 novembro 2011
Balanço
Neste quarto muito se tem feito, pouco se tem registado.
Esteve-se, com muito gosto e com “O Bicho-de-sete-cabeças”, na Abertura da Biblioteca do Centro Escolar da Serra de Aire, do Concelho de Torres Novas.
Preparam-se novas sessões, na fnac de Leiria (sábado, dia 19, às 17h00), na XXV Feira do Livro de Constância (dia 29, às 10h00).
Em dezembro contamos falar com mais jovens leitores nas escolas EB 2/3 Dr. António Chora Barroso e EB 2/3 Manuel Figueiredo (dia 05) e em Fontainhas e Vale de Santarém (no dia 13).
Apareçam!
Esteve-se, com muito gosto e com “O Bicho-de-sete-cabeças”, na Abertura da Biblioteca do Centro Escolar da Serra de Aire, do Concelho de Torres Novas.
Preparam-se novas sessões, na fnac de Leiria (sábado, dia 19, às 17h00), na XXV Feira do Livro de Constância (dia 29, às 10h00).
Em dezembro contamos falar com mais jovens leitores nas escolas EB 2/3 Dr. António Chora Barroso e EB 2/3 Manuel Figueiredo (dia 05) e em Fontainhas e Vale de Santarém (no dia 13).
Apareçam!
19 outubro 2011
linguagem total
“Deve haver uma língua em que uma só palavra traduza aqueles momentos passados em que quase escolhemos o caminho que nos teria afastado do caminho de que hoje não quereríamos a menor distância. Uma palavra quase como um arrepio.”
Pedro Jordão
in lonely hunters
Pedro Jordão
in lonely hunters
23 setembro 2011
26 agosto 2011
25 agosto 2011
23 agosto 2011
Numa livraria (ou até biblioteca) perto de si
Freguesa: Queria o livro dos Maias, mas não quero o do Camões, quero aquele das profecias.
Livreira Anarquista (chocada e sem conseguir pensar em mais nada): ...mas não foi o Camões que escreveu os Maias....
Freguesa: Não interessa, não é esse que eu quero.
Este e outros diálogos surreais aqui.
Livreira Anarquista (chocada e sem conseguir pensar em mais nada): ...mas não foi o Camões que escreveu os Maias....
Freguesa: Não interessa, não é esse que eu quero.
Este e outros diálogos surreais aqui.
18 agosto 2011
17 agosto 2011
Haverá melhor maneira de acabar (com) uma entrevista(dora)?
Final da entrevista em causa:
"Maria Ramos Silva - Acusam-no muitas vezes de misoginia ou misantropia. Invertendo a questão, é um solteiro cobiçado?
Pedro Mexia - Cobiçado?! Não faço a mínima ideia... acho que nem nunca pensei nessa palavra. Solteiro cobiçado é engraçado. Essa agora. Não ouvia essa palavra há muito tempo. Eu sou absolutamente misantropo, mas não sou nada misógino e fico chocado com a acusação de misoginia, que acho que é puro desconhecimento da língua portuguesa. Quando me chamam misógino mando sempre as pessoas irem ao dicionário."
MAIS NADA!
A ler na íntegra aqui.
"Maria Ramos Silva - Acusam-no muitas vezes de misoginia ou misantropia. Invertendo a questão, é um solteiro cobiçado?
Pedro Mexia - Cobiçado?! Não faço a mínima ideia... acho que nem nunca pensei nessa palavra. Solteiro cobiçado é engraçado. Essa agora. Não ouvia essa palavra há muito tempo. Eu sou absolutamente misantropo, mas não sou nada misógino e fico chocado com a acusação de misoginia, que acho que é puro desconhecimento da língua portuguesa. Quando me chamam misógino mando sempre as pessoas irem ao dicionário."
MAIS NADA!
A ler na íntegra aqui.
13 agosto 2011
a ambiguidade que cresce dos silêncios
adro
"a ambiguidade que cresce dos silêncios
onde moramos, que lavra a frente pública,
a procissão quieta que nos conduz à promessa
e ao ofício. sacrificamos os dias em regime.
-----a transmissão será retomada dentro
de momentos. não somos alheios ao que nos tranca
na rua."
s. d’o. no almanaque de ironias menores
"a ambiguidade que cresce dos silêncios
onde moramos, que lavra a frente pública,
a procissão quieta que nos conduz à promessa
e ao ofício. sacrificamos os dias em regime.
-----a transmissão será retomada dentro
de momentos. não somos alheios ao que nos tranca
na rua."
s. d’o. no almanaque de ironias menores
12 agosto 2011
11 agosto 2011
home is where the burning is
“É uma contradição que ainda não aprendi a resolver. A casa é um lugar seguro, onde nos abrigamos do caos, é o que por aí se repete, mas a verdade é que só me sinto em casa onde me desassossegam e não me prometem mais do que interrogações. Casa é um sítio onde custa adormecer.”
Pedro Jordão at The heart is a lonely hunter
Pedro Jordão at The heart is a lonely hunter
09 agosto 2011
03 agosto 2011
23 julho 2011
13 julho 2011
08 julho 2011
words
“It isn’t the color red that takes the place of the word red,
but the gesture that points to a red object”
Wittgenstein,
Wittgenstein,
The Big Typescript
05 julho 2011
O Bicho-de-sete-cabeças no PNL
“O Bicho-de-sete-cabeças – História de uma eleição democrática” faz parte da lista de livros recomendados pelo PNL – Plano Nacional de Leitura.
(Livro recomendado para apoio a projectos relacionados com Cidadania para os 3º, 4º, 5º e 6º anos de escolaridade).
Para consultar a lista, venham por aqui.
04 julho 2011
01 julho 2011
No Dia Mundial das Bibliotecas - Na biblioteca
Eu sei que a biblioteca é um lugar virado para fora, mas agrada-me esta imagem da mesma, já à noite, virada para dentro, com o poema, na solidão, a cantar:
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’
MANUEL ANTÓNIO PINA
In Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal,
Assírio & Alvim, 2011
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’
MANUEL ANTÓNIO PINA
In Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal,
Assírio & Alvim, 2011
29 junho 2011
18 junho 2011
“os livros encontram os seus próprios leitores”
A vida não basta e isso fica provado cada vez que vamos à Livraria Arquivo, em Leiria. Há muito mais para além da vida. Há a arte, há literatura, há tudo o que contradiz o tic-tac contínuo de cada segundo que passa.
A frase do título deste post é de António Manuel Pina. Com ele na foto estão Madalena Matoso, Afonso Cruz, Luís Mourão e Álvaro Romão. Há muito tempo que não estava num lugar com tanta genialidade por metro quadrado.
Comecei por apontar as frases que cada um dizia e que tinha a certeza de que quereria recordar… Desisti. Eram muitas frases, para tão pouca velocidade de registo.
Fica esta, a do título, que foi proferida a propósito da eterna questão de haver ou não livros “próprios” para crianças.
As outras ficam “apenas” na memória.
14 junho 2011
swim with the current and float away
Down by the river by the boats
Where everybody goes to be alone
Where you wont see any rising sun
Down to the river we will run
When by the water we drink to the dregs
Look at the stones on the riverbed
I can tell from your eyes
You've never been by the riverside
Down by the water the riverbed
Somebody calls you somebody says
swim with the current and float away
Down by the river every day
Oh my God I see how everything is torn in the river deep
And I don't know why I go the way
Down by the riverside
When that old river runs past your eyes
To wash off the dirt on the riverside
Go to the water so very near
The river will be your eyes and ears
I walk to the borders on my own
Fall in the water just like a stone
Chilled to the marrow in them bones
Why do I go here all alone
13 junho 2011
um grande barulho ao contrário
Andei a abrir “ao calhas” (essa belíssima expressão) os livros de poesia do Fernando Pessoa que tenho cá por casa (nota mental: organizar todas as minhas estantes por temas/autores um destes dias).
A marcar uma página, um postal editado pela Som da Tinta, em 2001, com um desenho do poeta, feito a tinta preta por Mário Alberto (quem conhece a colecção de postais da Som da Tinta sabe do que estou a falar).
Queria deixar aqui um poema de Fernando Pessoa, hoje, no 123.º aniversário do seu nascimento. É esse mesmo, que estava marcado, sei lá bem desde quando, que aqui vai ficar. Destacarei os versos que no livro estão sublinhados a lápis de carvão.
Ali não havia electricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler –
A Bíblia, em português, porque (coisa curiosa) eram protestantes.
E reli a Primeira Epístola aos Coríntios.
Em torno de mim o sossego excessivo das noites de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A Primeira Epístola aos Coríntios…
Reli-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima
E um grande mar de emoção chorava dentro de mim…
Sou nada…
Sou uma ficção…
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se eu não tivesse a caridade”…
E a soberana voz manda, do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma fica livre…
“Se eu não tivesse a caridade”…
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!
20-12-1934
Álvaro de Campos
In “Poemas de Álvaro de Campos”
Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1992, pg.142
10 junho 2011
01 junho 2011
30 maio 2011
curiosos à vista...
Convido-vos a visitar um sítio especial. É o blog dos alunos da EB1/JI de Abrunheira - Sintra, do 4º ano, turma F.
Este blog tem o objectivo de divulgar as actividades que a turma desenvolve na sala de aula. Partilharam em Março e Abril os trabalhos que realizaram à volta do livro “O Bicho-de-sete-cabeças – História de uma eleição democrática”, trabalhos esses que transformaram em livro de turma.
Fiquei surpreendida com muitos dos comentários que iam sendo feitos à volta da história e com a qualidade da abordagem ao livro realizada.
Estão tão curiosos como eu estava? Então sigam por aqui, que estes curiosos estão à vista.
29 maio 2011
27 maio 2011
26 maio 2011
25 maio 2011
despalavrear
inscrição
inchaço do coração
facilita o despalavrear.
a liberdade pode advir
de uma veia.
com sangue também
se reescreve a vida.
o suicidado foi um apressado
para desconhecimentos.
a morte
ela é que espera por nós.
na vida pedincho
reindagação de cheirares:
em continuado aquestionamento.
a despalavreação
pode acrescer de uma vida.
Ondjaki
“Há prendisajens com o xão”
Ed. Caminho, 2002, pg.20
inchaço do coração
facilita o despalavrear.
a liberdade pode advir
de uma veia.
com sangue também
se reescreve a vida.
o suicidado foi um apressado
para desconhecimentos.
a morte
ela é que espera por nós.
na vida pedincho
reindagação de cheirares:
em continuado aquestionamento.
a despalavreação
pode acrescer de uma vida.
Ondjaki
“Há prendisajens com o xão”
Ed. Caminho, 2002, pg.20
Nota do autor em “Outros convidados ou descoisas (de z a a)”, na pg. 63 do mesmo livro:
“inchaço do coração: basta uma lágrima para infectá-lo assim”.
banda sonora de viagem 11#
"Leave the pity and the blame
For the ones who do not speak
You write the words to get respect and compassion
And for posterity
You write the words and make believe
There is truth in the space between."
23 maio 2011
13 maio 2011
30 abril 2011
... and everybody goes “Awww"
“The only people for me are the mad ones,
the ones who are mad to live,
mad to talk,
mad to be saved,
desirous of everything at the same time,
the ones who never yawn or say a commonplace thing,
but burn,
burn,
burn,
like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars
and in the middle you see the blue centerlight pop
and everybody goes “Awww!”
Jack Kerouac
the ones who are mad to live,
mad to talk,
mad to be saved,
desirous of everything at the same time,
the ones who never yawn or say a commonplace thing,
but burn,
burn,
burn,
like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars
and in the middle you see the blue centerlight pop
and everybody goes “Awww!”
Jack Kerouac
28 abril 2011
Abat-jour
Abat-jour
A lâmpada acesa
(outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.
E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.
Bem sei… era dia
E longe de aqui…
Quanto me sorria
O que nunca vi!
E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar…
Fernando Pessoa (28-2-1929)
In “Poesia 1918-1930”,
Ed Assírio & Alvim, 2005, pg. 319
A lâmpada acesa
(outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.
E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.
Bem sei… era dia
E longe de aqui…
Quanto me sorria
O que nunca vi!
E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar…
Fernando Pessoa (28-2-1929)
In “Poesia 1918-1930”,
Ed Assírio & Alvim, 2005, pg. 319
24 abril 2011
19 abril 2011
14 abril 2011
ses
ses "a intimidação pelos deuses, eles vêm aí e põem-te pimenta na língua, dobra-a bem. não obstante, com entusiasmo, tu dizes foda-se motivado pela lingerie que percebes nela, alças brancas, calças justas à tranca, andar e ritmo lânguidos. quase não é necessário imaginar o que seria possível se. e quem sabe se sim, se não." s. d’o. (roubado daqui porque aqui só se rouba o que é bom)
10 abril 2011
sabedoria de fernando
"Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em extremo. Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir mais é próprio das crianças. Conquistar mais é próprio dos loucos."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego
Bernardo Soares
Livro do Desassossego
01 abril 2011
31 março 2011
29 março 2011
27 março 2011
26 março 2011
sabedoria de alice
"Envelhecemos com as palavras
ou elas
connosco."
Alice Vieira
"O que dói às aves",
Ed. Caminho, pg. 31
ou elas
connosco."
Alice Vieira
"O que dói às aves",
Ed. Caminho, pg. 31
15 março 2011
10 março 2011
"cegos são pessoas que não vêem"
“O céu devia estar cheio de rezas e choros, porque nessa tarde condensou a água de repente e choveu tudo de uma vez. Fez-se escuro como a pele dum rato e, minutos depois, largou o peso na terra.”
Rui Cardoso Martins
“Deixem passar o homem invisível”
Ed. Dom Quixote, 2009
Haverá melhor forma de começar um romance?
07 março 2011
02 março 2011
20 fevereiro 2011
19 fevereiro 2011
I set you free, like radiohead do
I will sneak myself into your pocket
Invisible, do what you want, do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me up and cut me up
There’s an empty space inside my heart
Where the wings take root
So now I’ll set you free
I’ll set you free
There’s an empty space inside my heart
And it won’t take root
Tonight I’ll set you free
I’ll set you free
Slowly we unfurl
As lotus flowers
And all I want is the moon upon a stick
Dancing around the pit
Just to see what it is
I can’t kick the habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your heart
We will sink and be quiet as mice
While the cat is away and do what we want
Do what we want
There’s an empty space inside my heart
And now it won’t take root
And now I set you free
I set you free
Because all I want is the moon upon a stick
Just to see what it is
Just to see what gives
Take the lotus flowers into my room
Slowly we unfurl
As lotus flowers
All I want is the moon upon a stick
Dance around a pit
The darkness is beneath
I can’t kick the habit
Just to feed my fast ballooning head
Listen to your heart
16 fevereiro 2011
arte poética
"A poesia é a emoção expressa em ritmo através do pensamento, como a música é essa mesma expressão, mas directa, sem o intermédio da ideia."
Fernando Pessoa
13 fevereiro 2011
03 fevereiro 2011
02 fevereiro 2011
28 janeiro 2011
27 janeiro 2011
25 janeiro 2011
24 janeiro 2011
20 janeiro 2011
19 janeiro 2011
A arte do desvio 2#
D. Júlia acordou com frio.
Desde o segundo em que se levantou até ao segundo em que saiu de casa sentiu frio.
Todos os indícios a levavam a pensar que na rua estaria tudo gelado e por isso saiu porta fora com cuidado. O corpo estava satisfeito com o trabalho que duas mãos quentes tinham feito na sua pele inteira, na noite anterior e tudo havia a fazer para que essa sensação se prolongasse.
Assim que pousou o primeiro pé na calçada, caiu estatelada de costas no chão. Nos milésimos de segundo da queda, viu o céu cinzento, em meio círculo, a passar vertiginosamente diante dos olhos e pensou: “Já está, Júlia. Partiste-te toda.”
Não tinha partido. Mexia as pernas, mexia os braços e mexia o pescoço, apesar de não se conseguir levantar. Era por dentro que estava paralisada.
D. Júlia, faça frio, ou faça sol, a partir esse dia, ao sair de casa, desvia-se do exacto sítio onde pousou o pé nessa manhã. É essa a arte que está a praticar desde então.
Desde o segundo em que se levantou até ao segundo em que saiu de casa sentiu frio.
Todos os indícios a levavam a pensar que na rua estaria tudo gelado e por isso saiu porta fora com cuidado. O corpo estava satisfeito com o trabalho que duas mãos quentes tinham feito na sua pele inteira, na noite anterior e tudo havia a fazer para que essa sensação se prolongasse.
Assim que pousou o primeiro pé na calçada, caiu estatelada de costas no chão. Nos milésimos de segundo da queda, viu o céu cinzento, em meio círculo, a passar vertiginosamente diante dos olhos e pensou: “Já está, Júlia. Partiste-te toda.”
Não tinha partido. Mexia as pernas, mexia os braços e mexia o pescoço, apesar de não se conseguir levantar. Era por dentro que estava paralisada.
D. Júlia, faça frio, ou faça sol, a partir esse dia, ao sair de casa, desvia-se do exacto sítio onde pousou o pé nessa manhã. É essa a arte que está a praticar desde então.
13 janeiro 2011
cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos,
in "Poemas"
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos,
in "Poemas"
08 janeiro 2011
06 janeiro 2011
05 janeiro 2011
04 janeiro 2011
banda sonora de viagem 6#
Em aditamento, um poema sobre a fantasia, a imaginação e tudo o que neste quarto se tem dito sobre as tretas que inventamos na nossa cabeça. Dedicado, claro está, à outra blogueira deste espaço, que se senta, nesta senda, "next to me", como diz o cantor :)
FANTASIA
Despedacei tanto sonho
ao correr atrás da vida,
que tendo-a por mim segura
e com ela os meus segredos
vi que deixava perdidas
as razões desse correr,
e que tendo enfim a chave
já perdera a fechadura.
Adolfo Casais Monteiro(1908-1972)
02 janeiro 2011
01 janeiro 2011
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