30 junho 2010

Hugo Santos na Biblioteca Municipal de Ourém



O escritor Hugo Santos estará, no próximo dia 03 de Julho, pelas 17h00, na Biblioteca Municipal de Ourém, para apresentar o seu mais recente livro “Os labores de Adão e os artifícios de Eva”.
A apresentação da obra estará a cargo do poeta e dramaturgo Domingos Lobo e haverá um momento de declamação de poemas de Hugo Santos, na voz e mestria de Jorge Lino.
No final, a oportunidade de conversar com o autor e adquirir a obra apresentada, a preço de feira do livro. A não perder.


Nota biográfica:
Hugo Santos nasceu em Campo Maior e foi professor do 1.º Ciclo.
A sua obra literária fala da beleza do Alentejo raiano e reflecte o espaço da casa, da família e do silêncio, cheio de vozes, da planície.
Poeta, contista e romancista, muitos dos seus livros foram premiados. Foi vencedor do Prémio de Poesia Mário Viegas, Prémio Miguel Torga (romance), Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca e Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama.
Entre as suas obras principais contam-se: Os Rios Sobre a Parede (poesia), O Domador de Pássaros (poesia), A Mulher de Neruda (romance), O Segundo Ofício das Nostalgias (contos) e As Mulheres que Amaram Juan Tenório (romance).
Em 2008 publicou o livro “Eu, a casa, os bichos e outras coisas”, recomendado pelo PNL para leitura orientada na sala de aula com alunos do 5º e 6º ano de escolaridade que ainda não adquiriram hábitos de leitura.
Em Março de 2010 lançou o livro “Os labores de Adão e os artifícios de Eva”.


Sinopse por Urbano Tavares Rodrigues – “Os labores de Adão e os artifícios de Eva”
Os Labores de Adão e os Artifícios de Eva é um livro brilhante e profundo onde Hugo Santos nos dá, com o seu talento verbal e a sua extrema sensibilidade, a visão que dos mesmos amores vividos têm os homens e as mulheres que os partilharam. É notória a maior riqueza de apreensão e análise do vivido por parte das mulheres, o que não causa surpresa a quem tenha acompanhado a obra poética e ficcional de Hugo Santos.
Poucos escritores em Portugal terão essa sua intuição, esse seu conhecimento do feminino, que o torna um verdadeiro sedutor, ou seja, um cúmplice da mulher nos seus desejos e segredos. Só essa sua «alma feminina» lhe permitiria escrever tantas páginas de sedução e entendimento da mulher.
Pela qualidade da escrita, pela riqueza dos entrechos, pela magia dos sentimentos e da sua escalpelização, Os Labores de Adão e os Artifícios de Eva é um admirável livro de contos ou, se o quisermos ver de outro modo, um romance feito de múltiplas narrativas. Obra para ler e meditar, breviário de amor.” [Urbano Tavares Rodrigues]

18 junho 2010

O grande Saramago

“Como serão as coisas quando não estamos a olhar para elas? Esta pergunta, que cada dia me vem parecendo menos disparatada, fi-la eu muitas vezes em criança, mas só a fazia a mim próprio, não a pais nem professores porque adivinhava que eles sorririam da minha ingenuidade (ou da minha estupidez, segundo alguma opinião mais radical) e me dariam a única resposta que nunca me poderia convencer: “As coisas, quando não olhamos para elas, são iguais ao que parecem quando não estamos a olhar”. Sempre achei que as coisas, quando estavam sozinhas, eram outras coisas. Mais tarde, quando já havia entrado naquele período da adolescência que se caracteriza pela desdenhosa presunção com que julga a infância donde proveio, acreditei ter a resposta definitiva à inquietação metafísica que atormentara os meus tenros anos: pensei que se regulasse uma máquina fotográfica de modo a que ela disparasse automaticamente numa habitação em que não houvesse quaisquer presenças humanas, conseguiria apanhar as coisas desprevenidas, e desta maneira ficar a conhecer o aspecto real que têm. Esqueci-me de que as coisas são mais espertas do que parecem e não se deixam enganar com essa facilidade: elas sabem muito bem que no interior de cada máquina fotográfica há um olho humano escondido… Além disso, ainda que o aparelho, por astúcia, tivesse podido captar a imagem frontal de uma coisa, sempre o outro lado dela ficaria fora do alcance do sistema óptico, mecânico, químico ou digital do registo fotográfico. Aquele lado oculto para onde, no derradeiro instante, ironicamente, a coisa fotografada teria feito passar a sua face secreta, essa irmã gémea da escuridão. Quando numa habitação imersa em total obscuridade acendemos uma luz, a escuridão desaparece. Então não é raro perguntar-nos: “Para onde foi ela?” E a resposta só pode ser uma: “Não foi para nenhum lugar, a escuridão é simplesmente o outro lado da luz, a sua face secreta”. Foi pena que não mo tivessem dito antes, quando eu era criança. Hoje saberia tudo sobre a escuridão e a luz, sobre a luz e a escuridão.”
José Saramago
(1922-2010)

08 junho 2010

Mocidade Portuguesa (ou o discreto revivalismo que nos entra pelos olhos dentro)

A notícia de que, em Aveiro, mais de 1200 crianças se vão vestir com fardas da Mocidade Portuguesa, para comemorar os 100 anos da Implantação da República deixou-me boquiaberta.
Já cheguei a pensar que se as pessoas que mais fizeram pela Implantação da República em Portugal, no início do séc. XX, soubessem o que iria acontecer nas décadas seguintes, concretamente no Estado Novo, não teriam lutado para que tal se efectivasse. No entanto, no início do séc. XX, era impossível prever tais desenvolvimentos (há que fazer a ressalva). Agora, em pleno séc. XXI, o que leva um Agrupamento de Escolas a organizar um evento destes? Com tantos aspectos positivos a destacar, nos últimos 100 anos, qual o objectivo desta iniciativa?
Se “apenas um pai manifestou que não gostaria de ver a sua filha vestida com aquela indumentária”, conforme disse a responsável pelo projecto, então estamos mal. Há realmente qualquer coisa que me faz ter a certeza de que, muitas vezes, não há qualquer vantagem em alinhar com a maioria e que, por muito que nos possa custar, há algumas propostas do meio escolar que temos mesmo que recusar.

05 junho 2010

Brinquedo

A propósito de uma acção de formação em que as colaboradoras deste “4.º que sente” participaram, fica um poema de Miguel Torga.
Lembro, com muita satisfação, que o formador recorreu (pelo menos em três momentos diferentes) à poesia para exemplificar o seu ponto de vista. Fico contente, pois claro que fico contente.

Brinquedo

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.
Miguel Torga