16 setembro 2009

Roberto Bolaño e o seu 2666

Roberto Bolaño
Faltam 09 dias e 07 horas para podermos ter acesso à edição em Língua Portuguesa do livro que é considerado o maior fenómeno literário da última década.

15 setembro 2009

Emigração


Fotografia de Maria José Ramôa


Em Março de 2010 será lançado o novo romance de José Luís Peixoto, com o título “Livro”, que trata o tema da emigração portuguesa para França, nos anos 60.
Neste “quarto” já se sente curiosidade em ver como tratará o autor um tema que tanto diz aos portugueses, em geral e às colaboradoras deste espaço, em particular.
Até lá ficamos com um poema do autor.

QUARTO
Os posters, colados com fita-cola,
arderam nas paredes. Os ursos de
peluche fecharam os braços e, por
quase nada, arderam sobre a cama.
Os cartões de estudante antigos, os
postais de férias e os três poemas
passados a limpo arderam dentro
da gaveta da mesinha-de-cabeceira.
Fiz dezasseis anos, chegou o verão e
os bombeiros não tiveram meios
técnicos e humanos suficientes.

José Luís Peixoto
in Gaveta de Papéis,
Prémio Daniel Faria 2008, Edições Quasi, 2008

14 setembro 2009

Boneca de pano-encantado IV

Fotografia de Nuno Estrela


Brinca, boneca-de-pano-encantado.
Teus trajes são sonhos,
tua fantasia é nada.
Da tua quimera
perdida e desencantada
não podes exigir nada mais do que horror.
De que esperas?
Crescer não poderá ser solução.
Estagnada à beira do pontão
que deixa a tua ilha e entra no mar,
brinca.
Deixa cair teu corpo,
entra no atraente brilho molhado,
não lutes contra as ondas,
despede-te de teu navio ancorado
e todos pensarão
que continuas a brincar.

Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos, 2004,

Ed. Som da Tinta, pg.25

12 setembro 2009

Boneca de pano-encantado III


Fotografia de Sérgio Simões

De regresso às nuvens
veio uma boneca-de-pano-encantado,
que as nuvens sempre quis habitar
e nunca outro lado.

Que viagens de perdição acolheu
nestes dias em que no seu reino não choveu.

A vertigem da subida ao céu
ofereceu-lhe a loucura.

Vertigem de sentir demais,
vertigem de sentir ser a mais a dor que a consome.

Regresso às nuvens.
Aventura.
Boneca que de fantasia tem fome
das nuvens fez sua casa.
Boneca sem vida,
viver nas nuvens pode ser bom
mas o Sol que aquece,
por vezes abrasa.


Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos,
2004, Ed. Som da Tinta, pg. 23

05 setembro 2009

Boneca de pano-encantado II




Fotografia de Julia Kan

Uma boneca de pano-encantado,
que vivia perdida em labirintos de simulações,
acordou diferente uma manhã
desconhecendo as razões.

Suas pernas de trapo desapareceram,
substituiu-as uma cauda sedosa.
Um cabelo forte e rebelde,
suas tranças cor-de-rosa.
Seus olhos fixos, de boneca encantada,
por olhos vivos, como os de quem não quer perder nada.
Suas mãos sem dedos e de algodão
por dez dedos que anseiam tocar marés.
As penas, que habitavam seu coração
por mil desejos, de ter o mundo a seus pés.
Dezenas de bonecos companheiros
por um golfinho só para encantar.
O pó de suas prateleiras
pelo encanto do seu infinito mar.
A escuridão das ausentes estrelas
por uma pura luz... Pelo luar.
Uma simples boneca de encantados trapos,
a quem quedavam sonhos, planos e vida
acolheu a essência de cada dia,
para nunca ter uma jornada perdida.

Substituiu castelos
por mar, Sol e areia.
Não, já não é uma boneca.
Não, hoje acordou sereia.


Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos, 2004,
Ed. Som da Tinta, pg.19