26 setembro 2009
16 setembro 2009
Roberto Bolaño e o seu 2666
Roberto Bolaño
Faltam 09 dias e 07 horas para podermos ter acesso à edição em Língua Portuguesa do livro que é considerado o maior fenómeno literário da última década.
15 setembro 2009
Emigração
Fotografia de Maria José Ramôa
Em Março de 2010 será lançado o novo romance de José Luís Peixoto, com o título “Livro”, que trata o tema da emigração portuguesa para França, nos anos 60.
Neste “quarto” já se sente curiosidade em ver como tratará o autor um tema que tanto diz aos portugueses, em geral e às colaboradoras deste espaço, em particular.
Até lá ficamos com um poema do autor.
QUARTO
Os posters, colados com fita-cola,
arderam nas paredes. Os ursos de
peluche fecharam os braços e, por
quase nada, arderam sobre a cama.
Os cartões de estudante antigos, os
postais de férias e os três poemas
passados a limpo arderam dentro
da gaveta da mesinha-de-cabeceira.
Fiz dezasseis anos, chegou o verão e
os bombeiros não tiveram meios
técnicos e humanos suficientes.
José Luís Peixoto
in Gaveta de Papéis,
Prémio Daniel Faria 2008, Edições Quasi, 2008
Neste “quarto” já se sente curiosidade em ver como tratará o autor um tema que tanto diz aos portugueses, em geral e às colaboradoras deste espaço, em particular.
Até lá ficamos com um poema do autor.
QUARTO
Os posters, colados com fita-cola,
arderam nas paredes. Os ursos de
peluche fecharam os braços e, por
quase nada, arderam sobre a cama.
Os cartões de estudante antigos, os
postais de férias e os três poemas
passados a limpo arderam dentro
da gaveta da mesinha-de-cabeceira.
Fiz dezasseis anos, chegou o verão e
os bombeiros não tiveram meios
técnicos e humanos suficientes.
José Luís Peixoto
in Gaveta de Papéis,
Prémio Daniel Faria 2008, Edições Quasi, 2008
14 setembro 2009
Boneca de pano-encantado IV
Fotografia de Nuno Estrela
Brinca, boneca-de-pano-encantado.
Teus trajes são sonhos,
tua fantasia é nada.
Da tua quimera
perdida e desencantada
não podes exigir nada mais do que horror.
De que esperas?
Crescer não poderá ser solução.
Estagnada à beira do pontão
que deixa a tua ilha e entra no mar,
brinca.
Deixa cair teu corpo,
entra no atraente brilho molhado,
não lutes contra as ondas,
despede-te de teu navio ancorado
e todos pensarão
Teus trajes são sonhos,
tua fantasia é nada.
Da tua quimera
perdida e desencantada
não podes exigir nada mais do que horror.
De que esperas?
Crescer não poderá ser solução.
Estagnada à beira do pontão
que deixa a tua ilha e entra no mar,
brinca.
Deixa cair teu corpo,
entra no atraente brilho molhado,
não lutes contra as ondas,
despede-te de teu navio ancorado
e todos pensarão
que continuas a brincar.
Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos, 2004,
Ed. Som da Tinta, pg.25
12 setembro 2009
Boneca de pano-encantado III
Fotografia de Sérgio Simões
De regresso às nuvens
veio uma boneca-de-pano-encantado,
que as nuvens sempre quis habitar
e nunca outro lado.
Que viagens de perdição acolheu
nestes dias em que no seu reino não choveu.
A vertigem da subida ao céu
ofereceu-lhe a loucura.
Vertigem de sentir demais,
vertigem de sentir ser a mais a dor que a consome.
Regresso às nuvens.
veio uma boneca-de-pano-encantado,
que as nuvens sempre quis habitar
e nunca outro lado.
Que viagens de perdição acolheu
nestes dias em que no seu reino não choveu.
A vertigem da subida ao céu
ofereceu-lhe a loucura.
Vertigem de sentir demais,
vertigem de sentir ser a mais a dor que a consome.
Regresso às nuvens.
Aventura.
Boneca que de fantasia tem fome
das nuvens fez sua casa.
Boneca sem vida,
viver nas nuvens pode ser bom
mas o Sol que aquece,
Boneca que de fantasia tem fome
das nuvens fez sua casa.
Boneca sem vida,
viver nas nuvens pode ser bom
mas o Sol que aquece,
por vezes abrasa.
Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos,
2004, Ed. Som da Tinta, pg. 23
In Jogo de Espelhos,
2004, Ed. Som da Tinta, pg. 23
11 setembro 2009
05 setembro 2009
Boneca de pano-encantado II
Fotografia de Julia Kan
Uma boneca de pano-encantado,
que vivia perdida em labirintos de simulações,
acordou diferente uma manhã
desconhecendo as razões.
Suas pernas de trapo desapareceram,
substituiu-as uma cauda sedosa.
Um cabelo forte e rebelde,
suas tranças cor-de-rosa.
Seus olhos fixos, de boneca encantada,
por olhos vivos, como os de quem não quer perder nada.
Suas mãos sem dedos e de algodão
por dez dedos que anseiam tocar marés.
As penas, que habitavam seu coração
por mil desejos, de ter o mundo a seus pés.
Dezenas de bonecos companheiros
por um golfinho só para encantar.
O pó de suas prateleiras
pelo encanto do seu infinito mar.
A escuridão das ausentes estrelas
por uma pura luz... Pelo luar.
Uma simples boneca de encantados trapos,
a quem quedavam sonhos, planos e vida
acolheu a essência de cada dia,
para nunca ter uma jornada perdida.
Substituiu castelos
por mar, Sol e areia.
Não, já não é uma boneca.
Não, hoje acordou sereia.
que vivia perdida em labirintos de simulações,
acordou diferente uma manhã
desconhecendo as razões.
Suas pernas de trapo desapareceram,
substituiu-as uma cauda sedosa.
Um cabelo forte e rebelde,
suas tranças cor-de-rosa.
Seus olhos fixos, de boneca encantada,
por olhos vivos, como os de quem não quer perder nada.
Suas mãos sem dedos e de algodão
por dez dedos que anseiam tocar marés.
As penas, que habitavam seu coração
por mil desejos, de ter o mundo a seus pés.
Dezenas de bonecos companheiros
por um golfinho só para encantar.
O pó de suas prateleiras
pelo encanto do seu infinito mar.
A escuridão das ausentes estrelas
por uma pura luz... Pelo luar.
Uma simples boneca de encantados trapos,
a quem quedavam sonhos, planos e vida
acolheu a essência de cada dia,
para nunca ter uma jornada perdida.
Substituiu castelos
por mar, Sol e areia.
Não, já não é uma boneca.
Não, hoje acordou sereia.
Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos, 2004,
In Jogo de Espelhos, 2004,
Ed. Som da Tinta, pg.19
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