25 abril 2008

Questão


Agora que Abril é nosso
e as palavras teimam
em não se transformar em actos,
quem é que se apropria de factos
que em nada da sua vida
se reflectem?

Agora que Abril nasceu
para aqueles que o não fizeram,
quem nos quer tapar os olhos
com lantejoulas, brilhantina e folhos
enquanto suaves tiranias
se cometem?

Carmen Zita Ferreira
Abril’2008

Fotografia de PlasticBag

23 abril 2008

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor

Páginas enfeitiçadas


"Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, o eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo - não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descubramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos-, vamos regressar. Para mim aquelas páginas enfeitiçadas serão sempre as que encontrei entre os corredores do Cemitério dos livros esquecidos."



in A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón
Dom Quixote
Foto: Sandrine Huet

14 abril 2008

Memorável

Fotografias de José Goulão


Noite de 12 de Abril, Coliseu dos Recreios, um notável e fabuloso espectáculo.
David Fonseca prometeu um espectáculo pensado do princípio ao fim e cumpriu a promessa.
Em jeito de introdução, num pequeno e intimista vídeo, realizado pelo próprio cantor, este convida-nos a entrar no seu mundo, onde o ponto de partida é sempre difícil de tomar e onde o ponto de chegada não é o mais importante, porque é o caminho que o fascina.

Acabado o vídeo, entram em palco quatro mariachis, muito para lá de divertidos, a fazer adivinhar o tema “4th Chance”, onde David Fonseca explorou os sons dos instrumentos de sopro. Não poderia ter começado de melhor maneira este espectáculo, que teve a invulgar capacidade de ir surpreendendo o público, em cada pormenor, até ao grandioso final.
Os dez primeiros temas foram singles efusivamente cantados pelo público. Pelo meio, a habitual e inquietante versão de “Song to the Siren”, com o pormenor cénico da descida de lâmpadas sobre o público, a meio da sala, que se acenderam ao levantar do braço de David Fonseca em direcção às mesmas, com uma lâmpada já acesa, na sua própria mão.



A certa altura David Fonseca afirmou que não leva inéditos só ao Texas e que também queria brindar o público do Coliseu com um tema inédito, desta feita com o título, ainda provisório, “Orange Tree”.
De destacar também o momento em que todos vibraram com a música “This raging light”, enquanto um grupo de bailarinos/as, dançavam (um dos quais em cima do piano da Rita Redshoes) sob várias esferas de espelhos disco e ainda o momento em que o cantor confessa que, no passado, desejara ser "agente secreto".





No final, num obrigatório encore, David Fonseca surge no palco, de pijama, sentado numa cama, sob bolinhas de sabão, com uma viola acústica, para cantar, como se estivéssemos no seu quarto, o tema “Dreams in colors”. Terminada música David disse “Lisboa, estou cansado” e deitou-se na cama. Apagaram-se a luzes do palco…



Parecia que tudo tinha terminado ali, num sono profundo do artista. Mas não, o espectáculo culmina, num sonho real, com todos os elementos do grupo mascarados, onde David Fonseca passa a mensagem de que, nos seus sonhos, estará sempre com o público que com ele viveu aquela noite, presenteando o mesmo com uma versão do tema “Together in electric dreams”, de Philip Oakey.
Na verdade, penso que o público levou a sério esta mensagem (we’ll always be together) e quando o espectáculo sair em DVD poucos serão os que não quererão preservar esta noite como sua e recordá-la sempre que assim o desejarem.

1.ª parte

A primeira parte do espectáculo no Coliseu coube à Rita Redshoes que, mais uma vez, espalhou pela sala repleta de público o seu “charme generalizado” (usando as palavras do próprio David Fonseca).
Cada vez mais segura em palco, Rita Redshoes intensifica a cada espectáculo que passa a sua expressividade e a sua capacidade de comunicação, o que só vem confirmar aquilo que tínhamos adivinhado aquando da sua estreia, a 12 de Outubro passado, aqui.
Longe de estar apenas à espera de David Fonseca, o público do Coliseu esteve, desde o início, em sintonia com Rita Redshoes e o seu grupo, acompanhando-os com palmas e entoando as melodias do recém-editado “Golden Era”.

12 abril 2008

longa espera


Fotografia de Zé Diogo e Diamantino Jesus (DiDiArte)

Somos árvores
só quando o desejo é morte.
Só então nos lembramos
que Dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.

Eugénio de Andrade
in Poesia, Ed. Fundação Eugénio de Andrade,
2.ª edição, 2005, pg. 20

07 abril 2008

Desafio musical

Recebi da Teia de Ariana um desafio: escolher seis (apenas seis) músicas que marcaram as nossas vidas.
Quando estava a transcrever o poema e a ouvir a melodia da música do anterior artigo, percebi que, sim, essa (Postcards from Italy) seria uma das que colocaria na minha lista pessoal.
E foi com grande alegria que reparei que, assim sendo, muitas outras ainda estarão para vir e tomar o seu lugar na minha lista de futuro.
Gostei da ideia e decidi, finalmente, procurar as seis músicas que mais me marcaram até hoje.
Qual seria o critério de escolha?
As melhores, as mais perfeitas, as mais consagradas?
Não. Decidi escolher aquelas que já me fizeram chorar, as que provocam no meu coração uma alegria que me faz (ainda hoje) querer pular, as que me arrepiam e as que transformaram o meu pequeno mundo.
Assim sendo, aqui vai a lista, sem nenhuma música dos Beirut (ainda) e ordenada arbitrariamente:

- Por quem não esqueci – Sétima Legião;
- Les Mystérieuses Cités D'Or (tema dos desenhos animados com o mesmo nome);
- Shiny Happy People - R.E.M.;
- Linger - The Cranberries;
- They Dance Alone – Sting;
- Noite de Verão – Trovante.

Devo dizer que à conta deste desafio já ri e já me fartei de chorar! Não quero de maneira alguma provocar tais sensações à Justine e à Tanita, mas é precisamente a elas que vou passar o desafio, por mera e sincera curiosidade.












04 abril 2008

sublime


The times we had

Oh, when the wind would blow with rain and snow

Were not all bad

We put our feet just where they had, had to go

Never to go

The shattered soul

Following close but nearly twice as slow

In my good times

There were always golden rocks to throw

at those who admit defeat too late

Those were our times, those were our times

And I will love to see that day

That day is mine

When she will marry me outside with the willow trees

And play the songs we made

They made me so

And I would love to see that day

Her day was mine .

Beirut

Má notícia

É pena, mas parece que isto é mesmo verdade.

01 abril 2008

Lies

“Now here's the sun, it's alright!

Lies, lies! (…)

Every time you close your eyes,

Lies, lies!”

Arcade Fire