Há palavras que nos beijam
como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
entre palavras sem cor,
esperadas inesperadas
como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
letra a letra revelado
no mármore distraído
no papel abandonado)
Palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte,
ao silêncio dos amantes
abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill
in “No Reino da Dinamarca : obra poética 1951-1965”
Lisboa, Guimarães Editores, imp. 1974. p. 50