17 novembro 2011

fórum miúdos da fnac leiria

Vou contar a minha história na fnac de Leiria, no próximo sábado, às 17h00. Quem ainda não a conhece pode aparecer. Quem já a conhece apareça também para conversarmos um bocadinho. Tragam as vossas crianças e a criança que há em vós!

15 novembro 2011

Balanço

Neste quarto muito se tem feito, pouco se tem registado.
Esteve-se, com muito gosto e com “O Bicho-de-sete-cabeças”, na Abertura da Biblioteca do Centro Escolar da Serra de Aire, do Concelho de Torres Novas.
Preparam-se novas sessões, na fnac de Leiria (sábado, dia 19, às 17h00), na XXV Feira do Livro de Constância (dia 29, às 10h00).
Em dezembro contamos falar com mais jovens leitores nas escolas EB 2/3 Dr. António Chora Barroso e EB 2/3 Manuel Figueiredo (dia 05) e em Fontainhas e Vale de Santarém (no dia 13).
Apareçam!


19 outubro 2011

linguagem total

“Deve haver uma língua em que uma só palavra traduza aqueles momentos passados em que quase escolhemos o caminho que nos teria afastado do caminho de que hoje não quereríamos a menor distância. Uma palavra quase como um arrepio.”
Pedro Jordão
in lonely hunters

25 agosto 2011



“Children's reading is so important that only the best you can offer is good enough.”

Linda Newbery

in The Guardian

23 agosto 2011

Numa livraria (ou até biblioteca) perto de si

Freguesa: Queria o livro dos Maias, mas não quero o do Camões, quero aquele das profecias.
Livreira Anarquista (chocada e sem conseguir pensar em mais nada): ...mas não foi o Camões que escreveu os Maias....
Freguesa: Não interessa, não é esse que eu quero.

Este e outros diálogos surreais aqui.

17 agosto 2011

Haverá melhor maneira de acabar (com) uma entrevista(dora)?

Final da entrevista em causa:

"Maria Ramos Silva - Acusam-no muitas vezes de misoginia ou misantropia. Invertendo a questão, é um solteiro cobiçado?

Pedro Mexia - Cobiçado?! Não faço a mínima ideia... acho que nem nunca pensei nessa palavra. Solteiro cobiçado é engraçado. Essa agora. Não ouvia essa palavra há muito tempo. Eu sou absolutamente misantropo, mas não sou nada misógino e fico chocado com a acusação de misoginia, que acho que é puro desconhecimento da língua portuguesa. Quando me chamam misógino mando sempre as pessoas irem ao dicionário."

MAIS NADA!
A ler na íntegra aqui.

13 agosto 2011

a ambiguidade que cresce dos silêncios

adro

"a ambiguidade que cresce dos silêncios
onde moramos, que lavra a frente pública,
a procissão quieta que nos conduz à promessa
e ao ofício. sacrificamos os dias em regime.
-----a transmissão será retomada dentro
de momentos. não somos alheios ao que nos tranca
na rua
."
s. d’o. no almanaque de ironias menores

12 agosto 2011

“(…) de resto, também dizemos coisas

quando não as dizemos...”
Ondjaki, aqui



(fotografia de Pedro Colarejo, aqui)

11 agosto 2011

home is where the burning is

“É uma contradição que ainda não aprendi a resolver. A casa é um lugar seguro, onde nos abrigamos do caos, é o que por aí se repete, mas a verdade é que só me sinto em casa onde me desassossegam e não me prometem mais do que interrogações. Casa é um sítio onde custa adormecer.”
Pedro Jordão at The heart is a lonely hunter

08 julho 2011

words

“It isn’t the color red that takes the place of the word red,

but the gesture that points to a red object
Wittgenstein
,

The Big Typescript

05 julho 2011

O Bicho-de-sete-cabeças no PNL


“O Bicho-de-sete-cabeças – História de uma eleição democrática” faz parte da lista de livros recomendados pelo PNL – Plano Nacional de Leitura.
(Livro recomendado para apoio a projectos relacionados com Cidadania para os 3º, 4º, 5º e 6º anos de escolaridade).
Para consultar a lista, venham por aqui.

01 julho 2011

No Dia Mundial das Bibliotecas - Na biblioteca

Eu sei que a biblioteca é um lugar virado para fora, mas agrada-me esta imagem da mesma, já à noite, virada para dentro, com o poema, na solidão, a cantar:

NA BIBLIOTECA

O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,

quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,

em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,

as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.

Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’

MANUEL ANTÓNIO PINA
In Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal,
Assírio & Alvim, 2011

18 junho 2011

“os livros encontram os seus próprios leitores”


A vida não basta e isso fica provado cada vez que vamos à Livraria Arquivo, em Leiria. Há muito mais para além da vida. Há a arte, há literatura, há tudo o que contradiz o tic-tac contínuo de cada segundo que passa.
A frase do título deste post é de António Manuel Pina. Com ele na foto estão Madalena Matoso, Afonso Cruz, Luís Mourão e Álvaro Romão. Há muito tempo que não estava num lugar com tanta genialidade por metro quadrado.
Comecei por apontar as frases que cada um dizia e que tinha a certeza de que quereria recordar… Desisti. Eram muitas frases, para tão pouca velocidade de registo.
Fica esta, a do título, que foi proferida a propósito da eterna questão de haver ou não livros “próprios” para crianças.
As outras ficam “apenas” na memória.

14 junho 2011

swim with the current and float away



Down by the river by the boats

Where everybody goes to be alone

Where you wont see any rising sun

Down to the river we will run


When by the water we drink to the dregs

Look at the stones on the riverbed

I can tell from your eyes

You've never been by the riverside


Down by the water the riverbed

Somebody calls you somebody says

swim with the current and float away

Down by the river every day


Oh my God I see how everything is torn in the river deep

And I don't know why I go the way

Down by the riverside


When that old river runs past your eyes

To wash off the dirt on the riverside

Go to the water so very near

The river will be your eyes and ears


I walk to the borders on my own

Fall in the water just like a stone

Chilled to the marrow in them bones

Why do I go here all alone

13 junho 2011

um grande barulho ao contrário


Andei a abrir “ao calhas” (essa belíssima expressão) os livros de poesia do Fernando Pessoa que tenho cá por casa (nota mental: organizar todas as minhas estantes por temas/autores um destes dias).
A marcar uma página, um postal editado pela Som da Tinta, em 2001, com um desenho do poeta, feito a tinta preta por Mário Alberto (quem conhece a colecção de postais da Som da Tinta sabe do que estou a falar).
Queria deixar aqui um poema de Fernando Pessoa, hoje, no 123.º aniversário do seu nascimento. É esse mesmo, que estava marcado, sei lá bem desde quando, que aqui vai ficar. Destacarei os versos que no livro estão sublinhados a lápis de carvão.

Ali não havia electricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler –
A Bíblia, em português, porque (coisa curiosa) eram protestantes.
E reli a Primeira Epístola aos Coríntios.

Em torno de mim o sossego excessivo das noites de província
Fazia um grande barulho ao contrário,

Dava-me uma tendência do choro para a desolação.

A Primeira Epístola aos Coríntios…
Reli-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima
E um grande mar de emoção chorava dentro de mim…

Sou nada…
Sou uma ficção…
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se eu não tivesse a caridade”…
E a soberana voz manda, do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma fica livre…
“Se eu não tivesse a caridade”…
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!

20-12-1934
Álvaro de Campos

In “Poemas de Álvaro de Campos”
Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1992, pg.142

30 maio 2011

curiosos à vista...



Convido-vos a visitar um sítio especial. É o blog dos alunos da EB1/JI de Abrunheira - Sintra, do 4º ano, turma F.
Este blog tem o objectivo de divulgar as actividades que a turma desenvolve na sala de aula. Partilharam em Março e Abril os trabalhos que realizaram à volta do livro “O Bicho-de-sete-cabeças – História de uma eleição democrática”, trabalhos esses que transformaram em livro de turma.
Fiquei surpreendida com muitos dos comentários que iam sendo feitos à volta da história e com a qualidade da abordagem ao livro realizada.
Estão tão curiosos como eu estava? Então sigam por aqui, que estes curiosos estão à vista.

25 maio 2011

despalavrear

inscrição

inchaço do coração
facilita o despalavrear.
a liberdade pode advir
de uma veia.
com sangue também
se reescreve a vida.
o suicidado foi um apressado
para desconhecimentos.
a morte
ela é que espera por nós.
na vida pedincho
reindagação de cheirares:
em continuado aquestionamento.
a despalavreação
pode acrescer de uma vida.

Ondjaki
“Há prendisajens com o xão”
Ed. Caminho, 2002, pg.20


Nota do autor em “Outros convidados ou descoisas (de z a a)”, na pg. 63 do mesmo livro:
inchaço do coração: basta uma lágrima para infectá-lo assim”.

banda sonora de viagem 11#


"Leave the pity and the blame
For the ones who do not speak
You write the words to get respect and compassion
And for posterity
You write the words and make believe
There is truth in the space between."

30 abril 2011

... and everybody goes “Awww"

“The only people for me are the mad ones,
the ones who are mad to live,
mad to talk,
mad to be saved,
desirous of everything at the same time,
the ones who never yawn or say a commonplace thing,
but burn,
burn,
burn,
like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars
and in the middle you see the blue centerlight pop
and everybody goes “Awww!”

Jack Kerouac

28 abril 2011

Abat-jour



Fotografia de Stanislav Istratov

Abat-jour

A lâmpada acesa
(outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.

No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.

E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.

Bem sei… era dia
E longe de aqui…
Quanto me sorria
O que nunca vi!

E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar…

Fernando Pessoa (28-2-1929)
In “Poesia 1918-1930”,
Ed Assírio & Alvim, 2005, pg. 319

14 abril 2011

ses

ses "a intimidação pelos deuses, eles vêm aí e põem-te pimenta na língua, dobra-a bem. não obstante, com entusiasmo, tu dizes foda-se motivado pela lingerie que percebes nela, alças brancas, calças justas à tranca, andar e ritmo lânguidos. quase não é necessário imaginar o que seria possível se. e quem sabe se sim, se não." s. d’o. (roubado daqui porque aqui só se rouba o que é bom)

10 abril 2011

sabedoria de fernando

"Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em extremo. Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir mais é próprio das crianças. Conquistar mais é próprio dos loucos."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

i do

26 março 2011

sabedoria de alice

Fotografia de Fernando Penin Redondo

"Envelhecemos com as palavras
ou elas
connosco."
Alice Vieira
"O que dói às aves",
Ed. Caminho, pg. 31

10 março 2011

"cegos são pessoas que não vêem"

fotografia de Jason Lavengood

“O céu devia estar cheio de rezas e choros, porque nessa tarde condensou a água de repente e choveu tudo de uma vez. Fez-se escuro como a pele dum rato e, minutos depois, largou o peso na terra.”
Rui Cardoso Martins
“Deixem passar o homem invisível”
Ed. Dom Quixote, 2009


Haverá melhor forma de começar um romance?

19 fevereiro 2011

I set you free, like radiohead do



I will sneak myself into your pocket
Invisible, do what you want, do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me up and cut me up

There’s an empty space inside my heart
Where the wings take root
So now I’ll set you free
I’ll set you free
There’s an empty space inside my heart
And it won’t take root
Tonight I’ll set you free
I’ll set you free

Slowly we unfurl
As lotus flowers
And all I want is the moon upon a stick
Dancing around the pit
Just to see what it is
I can’t kick the habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your heart

We will sink and be quiet as mice
While the cat is away and do what we want
Do what we want

There’s an empty space inside my heart
And now it won’t take root
And now I set you free
I set you free

Because all I want is the moon upon a stick
Just to see what it is
Just to see what gives
Take the lotus flowers into my room
Slowly we unfurl
As lotus flowers
All I want is the moon upon a stick
Dance around a pit
The darkness is beneath
I can’t kick the habit
Just to feed my fast ballooning head
Listen to your heart

16 fevereiro 2011

arte poética

"A poesia é a emoção expressa em ritmo através do pensamento, como a música é essa mesma expressão, mas directa, sem o intermédio da ideia."
Fernando Pessoa

25 janeiro 2011

A estante do JL



O JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias desta quinzena (12 a 25 de Janeiro), no suplemento JL Educação, na sua Estante, apresenta vários livros da editora Trinta por uma linha. Entre eles pode ler-se um apontamento sobre o meu “livrito”.


19 janeiro 2011

Discos perdidos # 3

A arte do desvio 2#

D. Júlia acordou com frio.
Desde o segundo em que se levantou até ao segundo em que saiu de casa sentiu frio.
Todos os indícios a levavam a pensar que na rua estaria tudo gelado e por isso saiu porta fora com cuidado. O corpo estava satisfeito com o trabalho que duas mãos quentes tinham feito na sua pele inteira, na noite anterior e tudo havia a fazer para que essa sensação se prolongasse.
Assim que pousou o primeiro pé na calçada, caiu estatelada de costas no chão. Nos milésimos de segundo da queda, viu o céu cinzento, em meio círculo, a passar vertiginosamente diante dos olhos e pensou: “Já está, Júlia. Partiste-te toda.”
Não tinha partido. Mexia as pernas, mexia os braços e mexia o pescoço, apesar de não se conseguir levantar. Era por dentro que estava paralisada.

D. Júlia, faça frio, ou faça sol, a partir esse dia, ao sair de casa, desvia-se do exacto sítio onde pousou o pé nessa manhã. É essa a arte que está a praticar desde então.

verdades & consequências 1#

via i can read

13 janeiro 2011

cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos,
in "Poemas"

04 janeiro 2011

banda sonora de viagem 6#



Em aditamento, um poema sobre a fantasia, a imaginação e tudo o que neste quarto se tem dito sobre as tretas que inventamos na nossa cabeça. Dedicado, claro está, à outra blogueira deste espaço, que se senta, nesta senda, "next to me", como diz o cantor :)

FANTASIA

Despedacei tanto sonho
ao correr atrás da vida,
que tendo-a por mim segura
e com ela os meus segredos
vi que deixava perdidas
as razões desse correr,
e que tendo enfim a chave
já perdera a fechadura.

Adolfo Casais Monteiro(1908-1972)