08 dezembro 2009

Segredos

Corolário de pequenas pétalas alvas,
translúcidas e perfumadas
guardo em secreto esconderijo
longe de piratas amantes de estados de alma perdidos
nos mares vendidos a litro.

Corolário de grandes ilusões coloridas,
opacas e oprimidas
guardo em baú com cadeado,
bem fechado,
perto do meu leito diário e certo
de colchão de segredos recheados.

Quem os não tem guardados,
semeados em terra fértil,
crescendo a cada dia?

Carmen Zita Ferreira
in Jogo de Espelhos,
Ed. Som da Tinta, 2004

04 dezembro 2009

Um olhar científico sobre as aparições de Fátima

No âmbito da actividade (con)tributos será feita a apresentação do Livro: “Videntes e Confidentes, um estudo sobre as aparições de Fátima” da autoria de Aurélio Lopes. A apresentação estará a cargo do Dr. Ernesto Jana, no próximo dia 05 de Dezembro, pelas 17horas, na Biblioteca Municipal de Ourém (Largo Professor Egas Moniz, n.º 12).

Biografia do autor: Investigador e professor do ensino superior, Aurélio Lopes, tem-se debruçado, especialmente, sobre a Antropologia do Sagrado, nomeadamente nas vertentes relacionadas com a religiosidade popular.
Conferencista e articulista em diversos periódicos regionais e nacionais, é autor de mais de duas dezenas de estudos publicados de que se destacam Religião Popular no Ribatejo (1999), O Percurso de Selene: A Lua na Tradição Popular (1996), Tempo de Solstícios (1998), A Face do Caos; Ritos de Subversão na Tradição Portuguesa (2000), O B. I. das Mouras Encantadas (2004), Devoção e Poder nas Festas do Espírito Santo (2004), Bielhas i Chocalheiros na ne Praino Mirandés (2005), A Sagração da Primavera (2007), A Festa dos Bugios no Sobrado; Concelho de Valongo (2008) e A Reconstrução do Sagrado: Religião Popular nos Avieiros da Borda D’ Água (2009).
Actualmente é responsável pelo Observatório Cultura da Associação Civilis e coordenador da Colecção Raízes e Antropologia da Editora Cosmos.

Sinopse do livro: Os fenómenos que usualmente denominamos “aparições”, revestem-se de vicissitudes sociais e culturais multifacetadas, em que se movimentam diversos actores, tanto videntes e devotos, como responsáveis pelos processos de aceitação e integração mais ou menos canónica.
E se as eventuais etapas secundárias, sempre institucionalizadas, se revestem, já, de uma multivalência doutrinária que as respectivas conjunturas vão acarretando, os testemunhos primários, constituem quase sempre uma emanação directa das personalidades dos videntes, numa conjuntura cultural bem definida.
Poder-se-á dizer-se, assim, que as aparições constituem eclosões epifânicas decorrentes de determinadas condições sociais, assentes em catalisadores culturais específicos e tendo como elemento polarizador a personalidade (não perversa, nem patológica, mas singular no seu psiquismo) do respectivo vidente!
Singularidades na relação dos homens com Deus, constituem momentos marcados pelo excepcional; pelo prodigioso.
Momentos em que a relação normal se mostra insuficiente perante a excepcionalidade ou a gravidade da ocasião. Em que a divindade resolve atalhar os canais normais de comunicação e falar, directamente, com os Homens.
São, muitas vezes, mensagens de aviso e alerta, face a um desvio devocional ou comportamental, ou um institucional religioso que tende para a estagnação e formalização ou, para um domínio, cada vez maior, da letra da lei.
Tais hierofanias radicam em pressupostos vários (tanto estruturais como conjunturais) que na conexão socio-cultural imbricam necessariamente. Os tempos são normalmente de crise social, moral ou política. Os videntes são frequentemente pessoas simples, de formação cultural baixa, emotivos e impressionáveis, levando muitas vezes uma existência dura e boçal, quantas vezes sofrida, sem perspectivas de melhoria.
Para eles o mundo é, ainda, palco de uma luta entre o bem e o mal. Luta perpétua, em que o mal confere, de alguma forma, sentido ao bem, não obstante, dever ser periodicamente vencido (ou, pelo menos, contido) em sucessivos confrontos que antecipam o confronto final e, onde, cada um, é suposto ter um papel a desempenhar.
A aparição proporciona-lhes uma importante ruptura com o quotidiano. Uma importância que os resgata à banalidade prosaica da sua existência e confere, de alguma forma, uma razão de ser, ao seu sofrimento. Fátima, naturalmente, não foge à regra.