31 agosto 2010

palavras

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixam de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens que guardam
o seu segredo e a sua posição.
Mário Cesariny

19 agosto 2010

Jogos de perfídia

Maria de Fátima Gouveia
Nasceu em Malveira a 18 de Maio de 1950. Aos dois anos veio para Lisboa, aí estudou e casou. Desde cedo revelou uma notável aptidão para o desenho e pintura. Após concluir o Curso Geral do Comércio, abandonaria o Complementar para ingressar no Externato Sá Miranda com objectivo de entrar na Faculdade das Belas Artes. Foi aí que descobriu a paixão pela escrita. Desiludida pelo facto do Ministério da Educação não lhe dar equivalência, desistiu dos estudos.
Durante a juventude privou com alguns artistas plásticos, entre eles o notável andaluz Don António Martin Maqueda. Foi técnica administrativa, empresária e decoradora, tendo adquirido vários cursos técnicos e profissionais. Presentemente vive em Figueiró dos Vinhos. Num local idílico onde encontrou a paz e inspiração para este seu primeiro romance. (do Prefácio, por António Gameiro).

Sinopse do livro Jogos de perfídia, de Maria de Fátima Gouveia:
Abril de 1936. Alguns moradores de Sacavém são apanhados de surpresa, com a morte inesperada de uma jovem da classe média-alta. Segundo a autópsia, a morte deveu-se a uma súbita paragem cardíaca.
Poucas semanas depois, os jornais noticiavam a morte de um conhecido empresário, descendente de uma das mais conceituadas famílias da alta burguesia portuense.
Sua esposa, aparentemente transtornada com a perda da irmã e a doença da mãe, atingira-o, inadvertidamente, a tiro de pistola.
Todas as testemunhas arroladas pelo tribunal, foram unânimes em confirmar que se tratara de um infeliz acidente, ditado pelo desvairo de uma mente perturbada.
Vinte anos depois, uma jornalista portuguesa regressa do Brasil, trazendo na bagagem alguns segredos que a levam a suspeitar que as duas mortes estão relacionadas. Decide investigar, a fim de desmontar toda a trama, acabando por chegar à triste conclusão de que todos os que participaram do julgamento haviam mentido, cada um deles por razões diferentes. Tudo não passara de uma perfídia.
Um drama familiar, baseado em alguns factos reais, passado na primeira metade do século XX, (tendo como pano de fundo a conturbada situação política e social que o país atravessou) uma época em que as mulheres se socorriam de artimanhas para contornarem os padrões opressores duma sociedade maioritariamente hipócrita e machista.
É o despertar das consciências femininas, o desejo de mudança que começa a desenhar-se, confrontados com obstáculos difíceis de transpor: a mentalidade retrógrada e o falso puritanismo daqueles que advogavam que o papel da mulher estava confinado à gestão do lar, sublimado à vontade do homem.

“Como diz Sófocles, na Antígona, através da palavra de Hémon: «Não tenhas pois um só modo de ver: nem só o que tu dizes está certo e o resto não. Porque quem julga que é o único que pensa bem, ou que tem uma língua ou um espírito como mais ninguém, esse, quando posto a nu, vê-se que é oco.» (…)”.

Eduardo Marçal Grilo
Se não estudas estás tramado.
Ed. Tinta da China, Lisboa, 2010, pg 144

03 agosto 2010

As três vidas

“Mais tarde pensei se haveria, na verdade, alguma espécie de estranho engenho dentro da cabeça de um homem que o impedisse, a partir de certa altura em que já nada espera, quando aprendeu a aceitar a derrota, de conseguir reconhecer aquilo sem que lhe parecera, em tempos, que não podia viver. Ansiamos por esse momento de felicidade; ele surge como uma queda de água no meio do deserto; e de repente, não acreditamos nele, por estarmos tão acostumados à sua irrevogável ausência.”
João Tordo (n. 1975, Lisboa)
in “As três vidas”,
Ed. QuidNovi, 4.ª ed, 2009, pg. 215