18 junho 2011

“os livros encontram os seus próprios leitores”


A vida não basta e isso fica provado cada vez que vamos à Livraria Arquivo, em Leiria. Há muito mais para além da vida. Há a arte, há literatura, há tudo o que contradiz o tic-tac contínuo de cada segundo que passa.
A frase do título deste post é de António Manuel Pina. Com ele na foto estão Madalena Matoso, Afonso Cruz, Luís Mourão e Álvaro Romão. Há muito tempo que não estava num lugar com tanta genialidade por metro quadrado.
Comecei por apontar as frases que cada um dizia e que tinha a certeza de que quereria recordar… Desisti. Eram muitas frases, para tão pouca velocidade de registo.
Fica esta, a do título, que foi proferida a propósito da eterna questão de haver ou não livros “próprios” para crianças.
As outras ficam “apenas” na memória.

14 junho 2011

swim with the current and float away



Down by the river by the boats

Where everybody goes to be alone

Where you wont see any rising sun

Down to the river we will run


When by the water we drink to the dregs

Look at the stones on the riverbed

I can tell from your eyes

You've never been by the riverside


Down by the water the riverbed

Somebody calls you somebody says

swim with the current and float away

Down by the river every day


Oh my God I see how everything is torn in the river deep

And I don't know why I go the way

Down by the riverside


When that old river runs past your eyes

To wash off the dirt on the riverside

Go to the water so very near

The river will be your eyes and ears


I walk to the borders on my own

Fall in the water just like a stone

Chilled to the marrow in them bones

Why do I go here all alone

13 junho 2011

um grande barulho ao contrário


Andei a abrir “ao calhas” (essa belíssima expressão) os livros de poesia do Fernando Pessoa que tenho cá por casa (nota mental: organizar todas as minhas estantes por temas/autores um destes dias).
A marcar uma página, um postal editado pela Som da Tinta, em 2001, com um desenho do poeta, feito a tinta preta por Mário Alberto (quem conhece a colecção de postais da Som da Tinta sabe do que estou a falar).
Queria deixar aqui um poema de Fernando Pessoa, hoje, no 123.º aniversário do seu nascimento. É esse mesmo, que estava marcado, sei lá bem desde quando, que aqui vai ficar. Destacarei os versos que no livro estão sublinhados a lápis de carvão.

Ali não havia electricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler –
A Bíblia, em português, porque (coisa curiosa) eram protestantes.
E reli a Primeira Epístola aos Coríntios.

Em torno de mim o sossego excessivo das noites de província
Fazia um grande barulho ao contrário,

Dava-me uma tendência do choro para a desolação.

A Primeira Epístola aos Coríntios…
Reli-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima
E um grande mar de emoção chorava dentro de mim…

Sou nada…
Sou uma ficção…
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se eu não tivesse a caridade”…
E a soberana voz manda, do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma fica livre…
“Se eu não tivesse a caridade”…
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!

20-12-1934
Álvaro de Campos

In “Poemas de Álvaro de Campos”
Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1992, pg.142