06 abril 2009

Perspectivas críticas de uma literatura menor


"Na obra de cada letrista do rock subjaz uma poética: um modo próprio de ver a realidade, uma linguagem pessoal, uma maneira de contar as coisas. Neste sentido, a poética de um autor está feita de obsessões, mas também de silêncios. Ambas lhe permitem construir um mundo dentro do mundo." Oscar Conde

Lisboa, 6 – 7 – 8 de Abril de 2009
Organização: Poéticas do Rock em Portugal, Centro de Estudos de Teatro, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Mais informações, aqui.

6 comentários:

j disse...

Ora um tema em que somos ricos.
desde a música de intervenção pré 25/abril, até ao rock punk dos peste e sida.
eu pensava que era doido por achar que as letras da música portuguesa era, estas sim, um género desconsiderado...
o neo-realismo é desconcertante!!! ;)

"Corre, corre não podes perder o ritmo
Tu sabes bem, o relógio nunca espera
Não te atrases quando vais picar o ponto
O teu patrão fica pior que uma fera

Cuida da tua vida e cuida das migalhas
Talvez consigas uma boa promoção
Segue o exemplo dos teus colegas canalhas
Que te desprezam por essa mesma razão"

©carmen zita disse...

J., não me fales em neo-realismo desconcertante!


Quanto à poesia na música, a mim parece-me que a dúvida nem se coloca. A poesia está ao serviço da música e vice-versa. Já não falo em rimas, nem em versos decassílabos. Falo em ritmo, em sentido, em sonoridades que a poesia (de qualidade) tem de ter. (e lembro o Edgar Allan Poe e os seus poemas, tão difíceis de traduzir e tão apetecíveis de musicar).
Há tantos poetas e poemas de qualidade usados em composições musicais que nem sei por onde começar.
Se há músicas com “letras fraquinhas” é porque há “mercado” para tudo e há composições cujo objectivo é só vender.
Mas que há (também em Portugal) músicas sublimadas pelo poema com que “casaram”, isso há!

vitorino almeida ventura disse...

As Letras como Poesia

— contra o velho preconceito que as diz uma literatura ‹‹menor››


(…) Ou seja, levar os participantes a escutar (d)o micro-texto linguístico (normalmente, oculto), na canção pluridimensional — que, como referiu Umberto Eco, in Apocalípticos e Integrados, estão lá todas as funções que Charles Lalo viu na melhor obra de arte: diversão, catarse, técnica, idealização, reforço ou duplicação.

Ventura, Vitorino Almeida,

apresentação de Curso de Verão,

Universidade Católica Portuguesa,

Porto, 2008.



A docente universitária Regina Guimarães (co-autora dos textos dos Três Tristes Tigres) revelou em Offficina de Letras, actas de um colóquio realizado em 2000 na Esc. Sec. de Gondomar, um dos mitos da Academia portuguesa — que todas as Letras são aí des_

consideradas como um ‹‹parente pobre da poesia››. Arnaldo Saraiva, também ele um académico, em As canções de Sérgio Godinho, já em 1977, edição da Assírio & Alvim, remara contra a Academia, bem antes de Regina. Que Godinho era — e para Arnaldo Saraiva decerto continua… ‹‹em Portugal, o cantor popular cujas letras no geral resistem melhor à separação da música — quer dizer, é seguramente o melhor letrista de canções portuguesas, poeta de qualidade equivalente à de um Dylan, de um Brassens, de um Caetano Veloso e, não tenhamos medo de o dizer, poeta de maior qualidade do que muitos que andam pelas antologias da velha e da novíssima poesia portuguesa e pelas salas das universidades. Só a título de exemplo, compare-se o poema de Sérgio Godinho sobre D. Sebastião com o que sobre o mesmo tema escreveram outros poetas celebrados, de Junqueiro a Manuel Alegre››. Assim,

também poesias há que se cumprem parentes pobres da lírica — no caso em análise, de Sérgio Godinho. E Arnaldo Saraiva tomava como exemplo a letra ‘‘Demónios de Alcácer-Quibir’’, a qual merecia entrar pela porta grande das universidades mesmo. Chegado aqui, no meu ensaio, intitulado precisamente As Letras como poesia, o melhor da pop/rock em Portugal, edição da Objecto Cardíaco, em 2006, e da Afrontamento, em 2009, outros casos excepcionais encontrei, na expressiva literariedade de António Avelar de Pinho (Banda do Casaco), JP Simões (Belle Chase Hotel), Carlos Tê (Clã), Rui Reininho (GNR), Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Manel Cruz (Ornatos Violeta), Regina Guimarães (Três Tristes Tigres), além do clássico Godinho, com o elixir da eterna juventude. E hei já em apontamento um segundo volume, com outros exemplos destes e de outros novíssimos autores (Jorge Cruz, Marta Bernardes, Ronaldo Fonseca, Pedro da Silva Martins, Tiago Guillul, valter hugo mãe)... tão só para fazer passar a minha convicção

de amador sobre a cousa amada, que não faz sentido algum estabelecer uma qualquer jerarquia entre poesia e letras, como entre poesia e prosa, outro dos mitos académicos, bastando ler a Fernando Pessoa para questionar da secundarização deste 2º género, já que se pudesse era o que nos daria o Poeta, ao mais Alto de nós. Acresce a disseminação, desde

a romântica prosa poética e seu avesso, em corrente seiscentista de poemas narrativos, ou outra mais recente de poesia — como dizer? — prosaica, inclusive escondendo o estilo, em José Miguel Silva e Fernando de Castro Branco. Por conclusão, tenho para mim que

há só textos bem conseguidos — ou não —, podendo gozar algumas Letras de plena autonomia relativamente ao macro-texto da canção, onde confluem com outros textos e seus valores semânticos — na vocalização, na instrumentação…

Sem mais, aqui vos deixo, então, alguns ex. exemplares de sub-textos linguísticos.


De António Avelar de Pinho, para a Banda do Casaco:


[AI A LUA AI A LUA É UMA BARQUINHA/QUE ANDA NO CÉU A BOIAR/AS ESTRELAS SÃO OS PEIXES/À VOLTA DELA A NADAR/AI A LUA AI A LUA É UMA BARQUINHA/QUE ANDA NO CÉU A BOIAR/COM MEU AMOR ANDEI NELA/ANDÁMOS NELA A PESCAR//ANDÁMOS NELA A PESCAR/COM NOVE ESTRELAS FIQUEI/LEVEI GRINALDAS DE ESTRELAS/NO DIA EM QUE ME CASEI/NO DIA EM QUE ME CASEI/NO DIA EM QUE ME QUISESTE/QUANTAS ESTRELAS HAVIA/QUANTAS ESTRELAS ME DESTE//AI A LUA AI A LUA É UMA BARQUINHA...//QUANTAS ESTRELAS ME DESTE/QUANTAS ESTRELAS GUARDEI/BORDEI-AS DE NOITE E DIA/NO ENXOVAL QUE LEVEI/NO ENXOVAL QUE LEVEI/QUE MINHA MÃE ME OFERECEU/TANTAS ESTRELAS BORDEI/QUANTAS HAVIA NO CÉU//AI A LUA AI A LUA É UMA BARQUINHA...//QUANTAS HAVIA NO CÉU/QUANTAS MEU AMOR ME DEU/NUMA BARQUINHA DE LUA/QUANDO MEU FILHO NASCEU/QUANDO MEU FILHO NASCEU/NO DIA EM QUE DEI À LUZ/BORDEI-LHE NOS CUEIRINHOS/ESTRELAS EM PONTO DE CRUZ//AI A LUA AI A LUA É UMA BARQUINHA...]


De JP Simões, para a Belle Chase Hotel:


2ª peça: São Paulo 451

[Naquela praça suja com merda de pombo, patrulhada pelo sexo, ele chega às quatro polindo o sapato p'ra vender o seu amplexo. E os homens passam, notam o seu bigode, mas na coxa se extravasam. Veio sua amiga, a loura José, convidando para o café. E ao segundo brandy já José se expande, esboroando seu baton: "Amanhã não estaremos aqui veja se bebe um pouco e sorri e tira esses olhos do chão! O futuro é lindo: eu já vi! E o avião vai directo para lá! Vamos embora dessa aflição!". E Manuel Morena tomou seus calmantes por causa dos joanetes. E disse cansado que estava assustado pois nunca tinha voado: "E se há um acidente? E se o passaporte? Será que não sentes o medo da morte? Me dá um cigarro! Me dói a cabeça! P'ra quê tanta pressa? E a depilação?". "Amanhã não estaremos aqui veja se bebe um pouco e sorri e tira esses olhos do chão! O futuro é lindo: eu já vi! E o avião vai directo para lá! Vamos embora dessa aflição!". Bem mais animadas, frescas e pintadas foram-se embora de vez. No dia seguinte num canto da praça quem passou podia ver duas prostitutas tão deselegantes acenando p'ra você.]


De Carlos Tê para o Clã:


[5. LOJA DE PORCELANAS - O que fazia um elefante\na tua loja de porcelanas\sei que não me vais dizer\\foi por ele que tu me trocaste\e eu nunca soube porquê\nem nunca virei a saber\\às vezes a beleza dói\quando o olhar reflecte\o que o coração inventou\\o que fazia um elefante\na tua loja de porcelanas\sei que não me vais dizer\\entrou e saiu pela frente\deixou tudo em pantanas\e tu voltaste a sofrer\\e quando o ideal cai\tudo aquilo que promete\nunca acontece]


De Rui Reininho para o GNR:


[QUE IMPORTA? - QUEM QUER OUVIR PINTAR EM INGLÊS DO MALI/OU IMITAR O PERÍODO FRANCÊS DE DALÍ/QUEM QUER FAZER CINEMA DO LESTE AQUI/QUEM QUER CANTAR CONTIGO EM JAPONÊS//RETRATO DE VÉNUS CONCHA VAZIA/VI VIL POP ARTE VYNIL MACIA//SÓ GOSTO DO QUE É IMPORTADO/PREFIRO O TEU CORPO ENLATADO//NÃO TE IMPORTES COM A FLORESTA/O FADO É TUDO O QUE ME RESTA]


De Adolfo Luxúria Canibal para a Mão Morta:


[Berlim, BERLIM:/MORREU A NOVE.//Cenário:/Yorckstß.../Sucessão de viadutos de ferro/Enegrecidos pela ferrugem,/Onde as velhas linhas para leste/Se equilibram, sobranceiras,/Os carris retorcidos pelo matagal.//De quando em vez/O crepúsculo é rasgado pelo S-Bahn para Mariendorf,/Fila de janelas iluminando prostitutas de couro e lingerie/Em carícias obscenas.//Hordas de guerreiros em latex vermelho,/Silhuetas recortadas no lusco-fusco,/Movimentam-se junto ao descampado.//Conan, o Bárbaro, montado no seu Camaro de 70/Cuspindo fogo estrepitosamente,/Vem ver se está tudo bem com as suas pequenas.//Do imbiss do turco/Ouve-se a rádio a anunciar que em Potsdamerplatz/O muro está a cair.//Que faço eu aqui/Com as mãos manchadas de sangue?//Berlim, Berlim...]


De Manel Cruz para os Ornatos Violeta:


[Capitão Romance aventuras no mundo, cap. I - rumo à verdade - não vou procurar quem espero/se o que eu quero é navegar/pelo tamanho das ondas/conto não voltar/parto rumo à primavera/que em meu fundo se escondeu/esqueço tudo do que eu sou capaz/hoje o mar sou eu/esperam-me ondas que persistem/nunca param de bater/esperam-me homens que desistem/antes de morrer/por querer mais do que a vida/sou a sombra do que eu sou/e ao fim não toquei em nada/do que em mim tocou//eu vi/mas não agarrei//parto rumo à maravilha/rumo à dor que houver pra vir/se eu encontrar uma ilha/paro pra sentir/e dar sentido à viagem/pra sentir que eu sou capaz/se o meu peito diz coragem/volto a partir em paz]


De Sérgio Godinho para o Clã:


[SIM, O AMOR É VÃO\É CERTO E SABIDO\MAS ENTÃO (PORQUE NÃO)\PORQUE SOPRA AO OUVIDO\O sopro do coração\SE O AMOR É VÃO\MERA DOR MERO GOZO\SORVEDOURO CAPRICHOSO\NO SOPRO DO CORAÇÃO\NO SOPRO DO CORAÇÃO>MAS NISTO O VENTO SOPRA DOIDO\E O QUE FOI DO\CORPO NO TURBILHÃO>SOPRA DOIDO\E O QUE FOI DO\CORPO ALADO\NAS ASAS DO TURBILHÃO\NISTO JÁ NEM DE AR PRECISAS\SÓ MERAS BRISAS\RARAS>CORTO EM DOIS LIMÃO\CHEGO O OUVIDO\AO FRESCOR\AO BARULHO\À ACIDEZ DO MERGULHO\NO SANGUE DO CORAÇÃO\PULSAR EM VÃO\É BEM DELE É BEM ISSO\E APESAR DISSO ERIÇA A PELE\O SOPRO DO CORAÇÃO\O SOPRO DO CORAÇÃO>MAS NISTO O VENTO SOPRA DOIDO\E O QUE FOI DO\CORPO NO TURBILHÃO>SOPRA DOIDO\E O QUE FOI DO\CORPO ALADO\NAS ASAS DO TURBILHÃO\NISTO JÁ NEM DE AR PRECISAS\SÓ MERAS BRISAS\RARAS]


De Regina Guimarães para os Três Tristes Tigres:


[descapotável - quero estropiar o nosso amor/cortar-lhe as asas/vazar-lhe os olhos/trilhar-lhe os dedos/e gemer.//quero o meu amor experimental/espremer-lhe espinhas/embriagá-lo/desinfectá-lo/e dormir.//quero o meu amor descapotável/furar-lhe os tímpanos/cortar-lhe as veias/amordaçá-lo./pisar-lhe os calos/arranhá-lo...//o meu amor cabe na cova que lhe abri/o meu amor cabe na cova dum dente.]




É minha convicção, repito, que estas e outras Letras podem sustentar uma plena autonomia, bastando a sua leitura para a linguagem se partir em dois e inverter o ónus da prova (assim o espero, definitivamente), ao outro Lado — dos músicos que in_

cultural_

mente desconsideram a Literatura, e dos literatos que minimizam a texto e con_

texto musicais, cabendo-lhes não apenas afirmar o contrário, mas mostrá-lo. Nesse espaço,

vai ligeiro o modo com que a música, sintetizada sob a fórmula pop/rock, surge des_

caracterizada, poucos-poucos membros da real Academia pesando suficiente a queda do Muro nos géneros musicais, se tantos grupos há muito mixam a velha nobreza da música erudita, mesmo a electro-acústica e a improvisada, havendo de fazer-se um estudo do papel de Carlos Zíngaro na sua passagem pela Banda do Casaco, de Rafael Toral em Pop dell’ Arte, de José João Cochofel e Luís Serdoura em U Nu, de Victor Rua, aquando do seu regresso, em site-specific aos GNR, da escola absolutamente contemporânea de João Paulo Esteves da Silva, sobretudo, em Sérgio Godinho, como das outras escolas: de jazz do Porto em Hélder Gonçalves para o Clã e de Paula Sousa nos Três Tristes Tigres; assim como de Coimbra, que escola se permitiu criar os Belle Chase Hotel na cabeça de Pedro Renato e o braço de Sérgio Costa que saiu para a Lisboa Atlântida do Quinteto Tati; mas como pude esquecer Elísio Donas, nos Ornatos Violeta?, e António Rafael e Joana Longobardi e Vasco Vaz, da Mão Morta, só porque não terminaram os seus Cursos?…

Também já não estou aí, tão aquém de uma relação vertical de outras músicas por relação à pop. Aqui, por baixo, ao nível do chão, tenho para mim que os músicos autodidactas (mas serei eu quem tem ouvidos para…), todos os que de ouvido nos tocam não hão sempre menor valor de troca — como Luís Represas viu nos Trovante, quando na última fase alguns dos músicos iniciais, mais amadores, foram substituídos por outros com escola, pois ‹‹faltava o grão, como numa fotografia; soava limpo demais››. E já o mundo musical prossegue tão além,

na fase de uma Stealing Orchestra, onde se sacam linhas de baixo, malhas de guitarra, ritmos, e como tudo se copia se transforma num loop, e já todos podemos ser o Outro do Outro, identidade perdida, logo achada num isso que circula pela rede global, como escreveu Stockausen. Outrossim

poucos-poucos teólogos da Academia pesando suficiente a queda do Muro nos géneros linguísticos e na contaminação das linguagens… Por exemplo, em ‘Turbina e Moça’ de Rui Reininho, na Companhia das Índias, poucos ouvem para lá dos ecos da ‘Menina e…’ de Bernardim Ribeiro. Na audição deste mesmo tema, do lado outro do purismo

da garagem, desconhecendo o discurso de Alberto Pimenta, só atendem ao ‹‹filho da…››, como um dos hinos das tribos do futebol, taça da liga ou da tanga, de que Reininho tanto gosta de cantar… A taça estará sempre meio-cheia quando uma parte recusar

ler (d)a outra. Mais: quando a Mão Morta faz Heiner Muller ou o conde de Lautréamont, muitos académicos dão a mesma caução cultural do crítico Eugénio de Cidade, que JP Simões criou para a Belle Chase Hotel. (Da garagem, bocejam.) Se as letras são assinadas por Adolfo Luxúria Canibal, os da garagem urram e assobiam de prazer. (No seu castelo de areia, jazem, eruditos, indiferentes.) Experimentem fazer close reading — sem saber da autoria e assinalem depois as diferenças entre os textos. Mas serei eu quem não tem olhos para…

Serei eu. Mas penso que as Poéticas do Rock poderão servir, ao menos, para tentar acabar de vez com o efeito de Pigmalião. Servir não a uma esmola de uma literatura dita ‹‹menor››, mas para que se comecem a olhar as letras sem um preconceito de pobreza franciscana, que de_

forma acriticamente um olhar sobre os materiais.


Vitorino Almeida Ventura

8 de Abril, 17:05.


Post Scriptum: Adolfo Luxúria Canibal lembrou-me via telefone que tal pre_

conceito se deve no Ocidente à manutenção da diferença entre alta e baixa cultura, que os Estados Unidos pelo seu pragmatismo já ultrapassaram há muito.

vitorino almeida ventura disse...

Post Scriptum 2: Foi a comunicação que escrevi para as Poéticas do Rock

©carmen zita disse...

Vitorino Ventura:
Que prazer poder, através do seu comentário, ter acesso à sua comunicação no Poéticas do Rock. Nem sei como agradecer pelo seu gesto de partilha.

Levo muito a sério a música e levo também muito a sério a poesia. A maior parte das vezes creio que não podem separar-se, se o objectivo for vivenciá-las na sua plenitude.
O exercício de “escutar (com atenção) o micro-texto linguístico na canção pluridimensional” é um exercício que tendo a fazer frequentemente.

Dou-lhe um exemplo prático: Comprei o último trabalho dos Clã, numa livraria, depois de os ouvir, numa pequena apresentação do mesmo. Adorei ouvi-los ao vivo e achei, imediatamente, que se tratava de um trabalho de excelente qualidade. Mas, depois de ouvir o CD com mais atenção, ter tido contacto com as poesias sob a forma escrita, entender o seu sentido, sentir por que motivo escolheu o músico dar mais ênfase a esta, ou aquela expressão, aí sim, apreciei de forma completa o trabalho realizado. “Cintura”é de um dos trabalhos discográficos que mais aprecio e tenho a certeza que isso se deve à minha admiração pela faceta criativa e interpretativa do grupo, mas também à qualidade dos poemas que escolheram.

Devo dizer-lhe, assim sendo, que concordo plenamente consigo quando diz que “há só textos bem conseguidos - ou não -, podendo gozar algumas Letras de plena autonomia relativamente ao macro-texto da canção, onde confluem com outros textos e seus valores semânticos - na vocalização, na instrumentação”.
Por isso me custa acreditar que haja bocejo da parte da “garagem” e indiferença nos “castelos de areia” dos “eruditos” quando as Letras são assinadas por autores diferentes (simplesmente por esse motivo). Fazer uma leitura de um poema sem saber quem o escreveu e assinalar as diferenças entre os textos é um conselho a seguir.

j disse...

UAUUUUUUUU!
Uma vénia. E DAS GRANDES!!!!
ora aqui está outro exemplo da humildade das pessoas simples.... ;)