05 setembro 2009

Boneca de pano-encantado II




Fotografia de Julia Kan

Uma boneca de pano-encantado,
que vivia perdida em labirintos de simulações,
acordou diferente uma manhã
desconhecendo as razões.

Suas pernas de trapo desapareceram,
substituiu-as uma cauda sedosa.
Um cabelo forte e rebelde,
suas tranças cor-de-rosa.
Seus olhos fixos, de boneca encantada,
por olhos vivos, como os de quem não quer perder nada.
Suas mãos sem dedos e de algodão
por dez dedos que anseiam tocar marés.
As penas, que habitavam seu coração
por mil desejos, de ter o mundo a seus pés.
Dezenas de bonecos companheiros
por um golfinho só para encantar.
O pó de suas prateleiras
pelo encanto do seu infinito mar.
A escuridão das ausentes estrelas
por uma pura luz... Pelo luar.
Uma simples boneca de encantados trapos,
a quem quedavam sonhos, planos e vida
acolheu a essência de cada dia,
para nunca ter uma jornada perdida.

Substituiu castelos
por mar, Sol e areia.
Não, já não é uma boneca.
Não, hoje acordou sereia.


Carmen Zita Ferreira
In Jogo de Espelhos, 2004,
Ed. Som da Tinta, pg.19

1 comentário:

Justine disse...

Que belo, já não me recordava!
(quando precisares de livros, sabes onde eles estão...)
Beijinho