29 março 2008

Barco fantasma


Fotografia de David Ligeiro


Barco fantasma

Vai vazia esta alma
Descarregada em seus porões,
De tesouros, de sentimentos,
De vozes e de emoções.
Vai vazia esta nau
Despojada de bandeira
Com rumo de sem eira nem beira,
Acompanhando, imóvel,
A única voz solitária
Do passado.
O eco é a sua viagem.
Não naufraga,
Não nada.
Não há termo para o deambular.
Como vai vazia aquela alma.
Como se arrasta aquela nau.

Susana Júlio
"Do mar grande e d'outras águas". Ed. Gama, 2006, pg. 97


Há palavras que, em certos dias, fazem todo o sentido.

1 comentário:

Susana Júlio disse...

O barco, tal como a alma, vai carregado o que quer que seja, às vezes e por vezes, por fases, e por constâncias e inconstâncias. Segue os rumos do rio no qual egue e deixa-se embalar pela velocidade ou não...mas nunca deixa de ser essa alma, o que é na sua essência. Nunca se compromete...
Noutro dia essa alma pode ter os seus porões carregados e ser o grito a sua bandeira, o grito feroz da alegria...como a lua e como as marés, assim o ser humano tem as suas fases...sendo que o "amanhã" é realmente outro dia.

A imagem é nostalgicamente linda e fica perfeita para o pomea. AMEI, do fundo do coração.

Um beijo bem grande e super saudoso. De uma alma carregada de amizade.