08 fevereiro 2008

Which way ?

"Would you tell me, please, which way I ought to go from here?" - said Alice
"That depends a good deal on where you want to get to"- said the Cat
"I don't much care where." - said Alice
"Then it doesn't matter which way you go." - said the Cat.
Alice no país das maravilhas - Lewis Carroll
Foto: Renato Brandão [olhares]

3 comentários:

©carmen zita disse...

Há que ter objectivos quando nos fazemos ao caminho.

A transcrição que aqui colocaste fez-me logo pensar num dos poemas mais conhecidos de José Régio, mas que vale sempre a pena voltar a ler. Aqui vai:

Cântico Negro

"Vem por aqui"
dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí."

José Régio

Belíssimo, não?

Susana Júlio disse...

Este poema é um autêntico tratado. Para além disso, quase um hino para os amantes de poesia que tantas vezes não andam...deambulam através dos mundos dos sentimentos e das ilusões, das esperanças e das credulidades...seja como for, existem sempre alternativas e caminhos. Mesmo em caso de dúvida há resposta para a mesma.
O excerto que escolheste, Elsa, é excelente...para além de ser um daqueles livros que "idolatro"! :)
Beijinhos.

Justine disse...

Boas escolhas para meditar, neste tempo insano de desnorte colectivo!
Parabéns pelo post e bom fim-de-semana