11 fevereiro 2008

Já é tarde

Fotografia de Nuno Abreu


JÁ É TARDE, AMOR

Já é tarde, amor,
para que a Lua se encha de azul
e nos transporte para as montanhas selvagens
onde uivam os lobos perdidos.
Já é tarde
para se criarem novas imagens
que representem sonhos antigos.
Até a chuva se cansou de esperar,
até ela caiu, se perdeu
e se confundiu com o mar.
As estrelas dançam no limiar do cosmo
e o seu destino entregam nas mãos
dos deuses da antiguidade.
Penso que é assim
porque já é tarde.
Cansaram-se de lutar
para não pertencerem só à noite,
porque é tarde, amor,
e toda a Natureza
se contenta com a sua sorte.

Carmen Zita Ferreira
in Jogo de Espelhos,
Ed. Som da Tinta, 2004, pg. 65

6 comentários:

Susana Júlio disse...

Mas nunca é tarde para se saber disso...nunca será tarde para reconhecer a ordem natural das coisas.
Sempre achei este poema lindíssimo.

Tininha disse...

Este poema é mesmo muito lindo...Gostei...

susemad disse...

Não, não é tarde!
Embora o pareça não será tarde.
Acredito que ainda haverá muito tempo.

Muito bonitas estas palavras.

©carmen zita disse...

Olá, moçoilas! Vós sois umas queridas :)

Aconselho vivamente a (todos) que cliquem sobre a foto do Nuno Abreu, para verem como ele conseguiu captar até as estrelas!

Justine disse...

De onde é que eu conheço este belo poema ?? :) Saudades do que fizemos, todos juntos!
E tens razão, Tita, a foto está à altura do poema, e vice-versa

Oliver Pickwick disse...

Não é uma questão de se contentar com a sorte, é uma retomada de consciência em busca da felicidade, quando não é mais possível ouvir os uivos dos lobos perdidos.
Beijos!