"Sentimos num mundo, pensamos e nomeamos num outro mundo; podemos estabelecer uma concordância entre ambos, mas não preencher o intervalo."
Marcel Proust(1871/1922)
Tenho um sorriso fechado na palma da minha mão. Sorriso que foi achado caído no meio do chão. Um sorriso que era vento desenrolado do azul em que as minhas velas pandas se enfunavam para o Sul, rumo a qualquer fim do mundo!
Uma ilha tropical onde o meu corpo confundo com vento suor e sal. Era esse o teu sorriso; o sorriso que me davas quando os teus olhos nos meus eram dois potros com asas.
À tua espera na praia fiquei pela tarde fora, no alto daquele rochedo onde um minuto é uma hora! E não vi o teu sorriso surgir da areia ou do mar. Nem tive um porto de abrigo... Nem foste um barco a chegar.
Se me disseres que morreste não acredito. Não posso! Andavas sempre comigo e o teu sorriso era o nosso... Hoje guardo o teu sorriso fechado na minha mão... A contrastar com o siso que trago no coração.
As alunas das doroteias comem todas as manhãs uma loura papa de aveia e nisto são meninas cristãs. Mas para que não conste que estas florinhas são antropófagas e pagãs, para que se não diga que elas comem o Santo Padre todas as manhãs, uma freira a quem nada escapa e que depois de morta vai ser santinha ensinou-lhes que em vez de papa elas devem dizer farinha. Natália Correia (1923-1993) in Poesia Completa, Ed. Dom Quixote, pg. 55